Eu não queria escrever sobre politica, sobre Renan
Calheiros, sobre a mansão de Sérgio Cabral e seu helicóptero, comprados com
nosso dinheiro, sobre como todo político consegue enriquecer tão rapidamente, e
a justiça cega, muda e surda não faz nada; só depois de uma denúncia, depois de
milhares de pessoas ficarem sem saúde, crianças sem merenda, trabalhadores
ficarem sem salários, depois do caos instalado, resolve sair do seu berço esplêndido.
Não quero falar sobre manobras dos políticos
para continuar roubando o país e continuarem impunes; sobre como cada dia a
vida da gente não vale nada; onde assaltantes não escondem mais o rosto para
assaltar, matar, estuprar; na realidade, querem holofotes, querem ser filmados
ou eles mesmos filmam e jogam nas redes sociais; sobre crianças vítimas de
abusos, muitas vezes com conivências de
pais despreparados que também não tiverem oportunidades, que foram vítimas também de um sistema cruel que
não prioriza a educação, cultura e saúde.
Não queria escrever sobre as incertezas de um
final de mandato e o início de outro, aqui em Itaituba; do medo que muitos
funcionários tiveram de não receber salários, de estarem desempregados depois
no Natal e do Ano Novo, ou não continuar trabalhando no mandato atual; sobre a imprudência,
imperícia e negligências de centenas de motociclista que andam na cidade, sem
capacete, três ou até mais em uma moto, levantando pneus, fazendo
ultrapassagens perigosas e em alta velocidade, arriscando suas vidas e de
terceiros, principalmente terceiros
Não queria escrever sobre os bilhões de
recursos que são desviados da saúde, educação, segurança e infraestrutura há
dezenas de anos e que são as causas de tudo que acabei de escrever até agora, e
sobre as quais não queria escrever.
Por causa da ganância de alguns, estamos
criando uma sociedade sem perspectiva de futuro, que vê no imediatismo a única
chance que tem de aproveitar “o melhor“ da vida, sem pensar na consequência de
seus atos. Por culpa dessas pessoas, estamos vendo a ascensão de gente como o
deputado federal Jair Bolsonaro, com toda sua arrogância e intolerância.
Estamos caminhando para uma divisão da sociedade
ainda maior, aquela que não aceita mais tanta impunidade, tanto descaso, tanta
roubalheira por parte dos políticos, tanta falta de segurança, e por isso vê em
Bolsonaros da vida, a solução para os problemas.
Outra questão diz respeito a esse sistema
corrupto, parte de um segundo grupo, que se utiliza de pobres coitados para
manter esses pilantras no poder, os quais se organizaram em grandes grupos
mafiosos institucionalizados que são os partidos, haja vista o volume de
corrupção e valores roubados que superam qualquer grande traficante.
E existe ainda um terceiro grupo, formado por
intelectuais, sindicalistas com suas historias de lutas, seus heróis do passado
e heróis atuais, que acreditam numa sociedade mais justa e igualitária, mas que
se perderam no caminho, como no caso o PT e seus aliados de esquerda, salvo
exceções que resolveram sair quando viram que os princípios haviam mudado e se
organizaram formando mais partidos.
O que eu queria era poder pegar meus filhos para
andar de bicicleta na ciclovia da minha cidade, com ruas arborizadas e limpas,
chegar até o parque, deixá-los brincar com outras crianças. À noite poder sentar
na frente de casa, tomar uma cerveja e ouvir música enquanto converso com o
vizinho. No trabalho e nas ruas, sentir que as pessoas estão mais confiantes e
acreditam num futuro melhor. Ligar a televisão e ouvir que os índices da nossa
educação estão lá em cima.
Na realidade, queria escrever coisas boas,
bonitas que fizessem as pessoas se emocionar, sentindo-se felizes, que lhes
deixassem em estado de paz. Não quero um mundo perfeito, mas quero um mundo
mais humano, onde o homem respeite seu semelhante e seja solidário, onde haja
mais coletividade e amor ao próximo.
Dr. Antônio Alvarenga, médico. Articulista do Jornal do Comércio. Artigo publicado na edição 225, que circula desde terça-feira