quinta-feira, junho 14, 2018

Hélio Rezende, um itaitubense das arábias

Piloto Hélio Rezende (esquerda)

          Desde a crise no comércio do ouro, registrada no governo do ex-presidente Fernando Collor de Melo, a partir de janeiro de 1991, as famílias de Itaituba passaram a dar mais valor ao estudo dos filhos, até então relegado a segundo plano por muita gente que conseguia ganhar um bom dinheiro com a atividade garimpeira.
            Essa mudança de comportamento pôde ser percebida a partir do início do Século XXI, quando muitos dos jovens que saíram para estudar fora, começaram a retornar depois de terminar um curso superior. Sem muitas opções na terra onde nasceram, muitos não retornaram.
            Hélio Rezende está entre esses jovens, com a diferença de que mudou de cidade, indo morar em Macapá, pois a família mudou-se para lá. Porém, nunca perdeu sua identificação com a terra em que nasceu, a ponto de iniciar sua carreira de aeronauta aqui mesmo, depois de conseguir o brevê. E nesta edição, o hoje piloto da Omã Air conta sua trajetória vitoriosa.
            Nascido em Itaituba em 02 de maio de 1985, filho de Léo Rezende e Lia Rezende, ela, “in memoriam”, estudo no Instituto de Educação de Itaituba, na Escola Semente do Saber e no Isaac Newton. Em Macapá, chegou a iniciar uma faculdade, mas, a cabeça estava voltada, mesmo, era para a aviação, profissão do pai.
            A infância e parte da adolescência foram vividas em Itaituba, completando essa fase em Macapá, sempre muito ligado ao esporte, sendo um praticante de futebol, sem a mesma inspiração que demonstraria mais tarde como piloto, profissão com a qual se identificou desde cedo, conforme disse em entrevista ao Jornal do Comércio, onde conta detalhes de sua vida.
Jornal do Comércio – Desde quando começou a pensar no que desejaria ser, pensou em ser piloto?
Hélio - Sempre! Meus pensamentos eram sempre voltados para esse fim, e era algo natural que só precisava esperar o tempo chegar. Nunca me imaginei fazendo outra coisa.
            Jornal do Comércio - Até que ponto seu pai, que é piloto desde a segunda metade dos anos 1970 influenciou na sua decisão?
            Hélio - A influência, logicamente, existiu, mas, foi bem natural, afinal, eu literalmente cresci em ambiente de aviação e convivendo com pessoas do meio. Daí, foi um pulo.
Jornal do Comércio - Quando e com que idade você conseguiu seu brevê?
            Hélio - Tirei o brevê com 19 anos, em 2004, e com 20 anos iniciei no primeiro emprego. Até hoje, só trabalhei nessa área. Aos 21 anos fiz o meu primeiro voo solo como Comandante de Táxi Aéreo.
Jornal do Comércio - Em que empresas trabalhou enquanto pilotou aviões de pequeno porte?
            Hélio - Trabalhei em empresas, como TAIL (Táxi Aéreo Itaituba Ltda), Fretax Táxi Aéreo e Norte Jet; em Macapá, trabalhei na Rio Norte Táxi Aéreo, que foi a melhor fase naquele período, voando basicamente no Pará, no Amapá e no Maranhão.
Felizmente, tive a oportunidade de fazer dois voos para Itaituba, partindo de Belém, profissionalmente, como comandante. E antes de iniciar a carreira profissional tive um estágio de alguns meses em Itaituba, adquirindo experiência e horas de voo necessárias para a fase de piloto comercial, apadrinhado pelo Comandante Luiz Feltrin, ícone da aviação na região, o qual ajudou muitos pilotos em diversas fases da carreira. 
Jornal do Comércio - Quando você sentiu que estava na hora de alçar voos mais altos, passando para a aviões de carreira?
            Hélio - No final de 2009 senti a necessidade de experimentar algo diferente na carreira, então vendi um carro e fui para São Paulo fazer alguns cursos necessários na área, apoiado de todas as maneiras possíveis pelo meu pai, o comandante Léo Rezende.
Depois de qualificado, pronto e apto para o desafio, espalhei o meu currículo pelas grandes empresas. Após três meses de espera, a Gol foi a primeira a me chamar, então em abril de 2010 iniciei o treinamento na mesma.
Foi uma experiência de vida e profissional muito enriquecedora, pois, pude vivenciar outro segmento da minha área.
Aprendi muitas coisas e tive a oportunidade de voar por todos os estados e principais aeroportos do Brasil e alguns países da América do Sul, Central e do Norte (Estados Unidos, México, Caribe, Venezuela, Chile, Argentina, Uruguai entre outros), 13 ao todo nesse período. Além de abrir-me as portas, capacitou-me para atuar em outras partes do mundo. A Gol é uma empresa com um clima muito bom para trabalhar, foram 7 bons anos.
Jornal do Comércio - Como o distante e pouco conhecido dos brasileiros, sultanato de Omã surgiu em seu horizonte?
            Hélio - O primeiro contato com a ideia de trabalhar em Omã, na Omã Air aconteceu através de um amigo paraense, de Belém, colega de trabalho na Gol, que já estava com a seleção agendada no país árabe. Ele me convidou. Então constatei que tinham alguns pilotos da Gol migrando para esse país, pois a nossa experiência no avião - Boeing 737 se encaixava no perfil desejado por eles.
Isso foi lá pela metade de 2016. No começo relutei e passei alguns meses pensando na mudança, até que na virada do ano para 2017 decidi, e após feita a seleção, após esperar alguns meses, desembarquei em Mascate para a nova vida, em agosto de 2017. 
Jornal do Comércio - O choque cultural foi forte na chegada?
            Hélio – Obviamente, existe a diferença de cultura, porém, também existe muito mito a respeito. As pessoas locais têm a sua crença, e a seguem à risca, como vestimentas e costumes religiosos; porém, nos países do Oriente Médio existem muitos expatriados (termo usado para residentes que vêm de outros países), de todos os lugares do mundo (até de Itaituba), então, não há um choque de cultura tão forte ao chegar.
Datas como natal e páscoa são normalmente exploradas comercialmente. Aqui mesmo, no condomínio aonde moro, 90% dos moradores são de fora, então, tem horas que nem lembramos que estamos no Oriente Médio. Além disso, os árabes são muito amigáveis e não há qualquer tipo de censura da parte deles para com os estrangeiros; há um grande respeito de ambas as partes em relação às diferenças.
Aonde se vê restrição é na parte relacionada a festas e bebida alcoólica.  Realmente é bem diferente do Brasil. Não existem festas como as nossas, não há bares para comprar bebida alcoólica. Outra coisa bem diferente é a segurança, aqui simplesmente não existem roubos ou violência.
Na parte da alimentação, sinto falta das comidas regionais do Pará, porém, por outro lado, há vários tipos de restaurantes e quase todos os tipos de comida.
Jornal do Comércio - Como você descreve essa experiência de alguns meses nessa atividade em Omã?
Hélio - A experiência de trabalhar aqui é algo bem rico como se imagina; é uma das áreas mais movimentadas do mundo em termos de tráfego aéreo. Outra coisa interessante é dividir a cabine de comando com pilotos de diversos lugares do mundo, com espanhóis, húngaros, suecos, russos, ucranianos, africanos, indianos, egípcios, panamenhos, peruanos entre outros…
Eu faço rotas de países árabes e países da Ásia. Já estive na Índia, no Paquistão, no Sri Lanka e outros. Na parte da administração e rotina operacional, os árabes são bem mais disciplinados e menos flexíveis que os brasileiros. Na aviação comercial há uma linguagem bem padronizada mundialmente, então, muita coisa da rotina aqui é algo que já via na Gol, não houve muito impacto. 
Jornal do Comércio - E como é o lazer?
            Hélio – O dia a dia aqui não é muito diferente do que eu tinha antes; contato com os amigos brasileiros da empresa, cinema, futebol, praia, visitar alguns pontos turísticos da cidade e arredores, além de descansar, pois afinal, o ritmo de trabalho aqui é bem mais intenso.
Jornal do Comércio – Como é a relação de estrangeiros com as mulheres árabes?
            Hélio - A relação de estrangeiros com as mulheres locais se resume à cordialidade, pois muitas trabalham em diversos setores da empresa, trabalham em bancos, etc... Até onde sei, não é permitido o envolvimento delas com estrangeiros, mesmo porque os árabes são muito tradicionalistas. Mas, em Omã tem gente de muitos lugares, da Europa e da Ásia, principalmente, e os brasileiros que querem namorar, não tem problema, pois podem namorá-las à vontade.
Jornal do Comércio – Quanto tempo pretende ficar no Oriente Médio?
            Hélio - Meu plano inicial é ficar 3 ou 4 anos, cumprir o contrato, aprender mais e aprimorar o inglês. Creio que nesse tempo terei mais embasamento para decidir o próximo passo.
Posso tentar ingressar numa empresa maior daqui da região, ou permanecer e apostar no crescimento da Omã Air, pois, há muita expectativa em torno disso; e paralelo à isso, ficar sempre atento ao mercado de trabalho no Brasil, que infelizmente, por hora se encontra estagnado e não apresenta perspectiva a curto e médio prazo; afinal de contas, a aviação é totalmente ligada à economia do país. Se a economia está bem, a aviação vai bem, se a economia não vai bem, isso reflete diretamente na aviação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário