domingo, abril 22, 2018

Soldado norte-coreano desertor relata discriminação vivida na Coreia do Sul

SEUL — Quando o soldado da elite norte-coreana Joo Seung-hyeon enfrentou a Zona Desmilitarizada, escapando de minas e das torres de vigilância para cruzar a fronteira com a Coreia do Sul, em 2002, imaginava uma vida próspera no capitalismo do país vizinho, mas a realidade se mostrou mais complicada. Discriminado pelos sulistas, que, segundo Joo, veem os primos do norte como “bárbaros, pobres e incivilizados”, o ex-militar foi dispensado de incontáveis entrevistas assim que revelava seu sotaque. No emprego que conseguiu num restaurante, recebia metade do salário dos outros funcionários.

Mesmo com as dificuldades, Joo perseverou, eliminando seu sotaque repetindo programas de rádio. Em seu tempo livre, se formou como Cientista Político e emendou com um doutorado em Estudos da Unificação, o primeiro no campo a ser concedido a um desertor norte-coreano. Mesmo com qualificação, e a experiência de ter vivido a maior parte da vida sob o regime comunista do Norte, Joo enfrentou dificuldades para encontrar uma vaga como pesquisador ou professor em universidades e resolveu contar em livro os desafios enfrentados pelos desertores norte-coreanos no país vizinho.

Entre as histórias que relata em seu livro, incluiu a de um colega que cometeu suicídio após sofrer para conseguir um diploma universitário e, mesmo assim, não conseguir um emprego. Para Joo, os desertores são vistos pelo sulistas como “intocáveis”, como conta a história de outro norte-coreano que decidiu deixar o país após pais de alunos da escola onde seu filho estudava protestarem publicamente contra a presença dele.
Desde 2000, apenas nove soldados norte-coreanos fugiram para o sul, e Joo é um deles. O último se tornou notícia internacional ao conseguir escapar em novembro do ano passado, sob tiros disparados por soldados da Coreia do Norte. Dois estão presos por uso de drogas e tentativa de assassinato, um se tornou alcoólatra e morreu de câncer no fígado, outro ficou paralítico após ser atropelado enquanto distribuía panfletos. Um deixou o país.
— Muitos dos soldados dizem se arrepender de terem vindo para o Sul — disse Joo, à AFP.

O ‘INFERNO’ DA REALIDADE SUL-COREANA
Um relatório do governo sul-coreano mostra que quase um quatro dos desertores norte-coreanos já pensaram ao menos uma vez em retornar para o norte. Alguns o fazem: nos últimos anos ao menos 20 desertores apareceram na imprensa norte-coreana, às lágrima, contando seus dias no “inferno” da Coreia do Sul, onde eram tratados como cidadãos de segunda classe.

— Eu nunca concordei que a sociedade da Coreia do Sul é um inferno — comentou Joo. — Mas cortou meu coração ver aqueles que arriscaram suas vidas para virem ao sul se matando ou emigrando para outro país por causa da discriminação social e o estigma.
E a questão se torna um vislumbre do futuro em caso de a Península Coreana realmente se unificar.

— Os norte-coreanos são um povo muito orgulhoso que nunca irá tolerar esse desdém com seu orgulho nacional e pessoal.

AFP

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