segunda-feira, abril 23, 2018

Brasileiros lutam por vaga na seleção da Rússia e título local

O Globo - Diz o ditado que é melhor um pássaro na mão do que dois voando. No país da Copa do Mundo, dois brasileiros perseguem objetivos que estão intimamente ligados — e parecem querer escapar de última hora. O goleiro Guilherme Marinato e o atacante Ari, ambos do Lokomotiv de Moscou, lutam por um título do Campeonato Russo que o time não conquista há 14 anos. No domingo, o Lokomotiv ficou no 0 a 0 com o Ufa, no seu segundo empate seguido em casa. Além de sonho da fanática torcida do “Loko”, uma das maiores da Rússia, o brilho da taça é importante para as pretensões dos brasileiros na seleção anfitriã do Mundial.
Guilherme, de 32 anos, é naturalizado desde 2015. Ari, também de 32, espera ansiosamente pelo seu passaporte russo, que deve sair até o fim do mês. Entrevistas recentes do técnico da seleção russa, Stanislav Cherchesov, indicaram que os brasileiros têm chances de disputar a Copa de 2018 pelo país daqui a menos de dois meses. Para isso, o desempenho no clube é impulso fundamental. Restam mais três partidas nesta temporada para o Lokomotiv agarrar o título — e para Guilherme e Ari agarrarem a vaga na convocação final de Cherchesov. O tropeço, no domingo, pode reduzir a vantagem no topo para quatro pontos, caso o Spartak vença o Grozny nesta segunda.
Na dupla do Lokomotiv, apenas Guilherme já foi testado na seleção russa. O goleiro atuou em dois amistosos em 2016, contra Lituânia e República Tcheca, entrando no intervalo em ambos — ainda sob o comando de Leonid Slutsky, treinador que deixou a seleção após o fiasco na Eurocopa daquele ano. Cherchesov, que assumiu em seguida, levou Guilherme para amistosos e também para a Copa das Confederações de 2017. Desde então, o goleiro não voltou a aparecer nem no banco pela Rússia. Nesse meio-tempo, ainda ficou fora de ação pelo Lokomotiv em dois momentos da temporada por problemas musculares.

— Guilherme sempre se destacou muito, mesmo atrapalhado por lesões. Foi convocado para a seleção por mérito — elogia Ari. — Se o Lokomotiv está perto do título é porque ele ajudou muito com grandes defesas. Não vejo outro goleiro que tenha se destacado tanto no campeonato deste ano, a não ser talvez o titular da seleção (Igor Akinfeev, do CSKA).
Domingo, durante o decepcionante empate sem gols com o Ufa, Guilherme exibiu a liderança cultivada em uma década de clube — e compartilhou da impaciência da torcida com o resultado. A todo momento, o goleiro cobrava agilidade do seu time nas saídas de bola e chegou a levar cartão amarelo, no segundo tempo, ao ir até o meio do campo para reclamar da cera feita pelos jogadores rivais. Depois do jogo, foi o único jogador a se aproximar das arquibancadas. Conversou rapidamente com torcedores, saiu aplaudido e ainda jogou sua camisa para um fã do Lokomotiv que havia levado um cartaz com o pedido.
Em março, Cherchesov desconversou quando perguntado sobre a escassez de chances para Guilherme e lembrou que o goleiro estava machucado. O treinador russo também se esquivou ao falar de Ari, embora tenha destacado que observou o atacante há dez anos, quando treinava o Spartak de Moscou. O brasileiro chegou ao futebol russo em 2010 e está no Lokomotiv desde a temporada passada.
— Eu fui o primeiro que viu Ari, ainda no futebol sueco. Ele decidiu tirar um passaporte russo, nós nunca pedimos nada. Se ele estiver legalmente apto a jogar pela Rússia e mostrar qualidade, não podemos desperdiçar uma chance. Mas, por enquanto, ele é brasileiro — desconversou Cherchesov.
Ari também teve uma temporada bastante atrapalhada por lesões. Em julho do ano passado, o atacante rompeu o ligamento cruzado do joelho direito e ficou fora de combate até fevereiro. A imprensa russa, que tem criticado as convocações de Cherchesov, vê com ceticismo as chances de Ari ser chamado pela primeira vez justamente na Copa do Mundo, sem jamais ter sido testado. No entanto, a lesão do atacante Aleksandr Kokorin, do Zenit — que também rompeu ligamentos do joelho, em março — abriu mais uma vaga no ataque da seleção russa, que o brasileiro espera herdar caso consiga sua naturalização a tempo.
Cherchesov tem que entregar à Fifa uma lista de 35 pré-convocados para a Copa do Mundo até meados de maio — deste grupo sai a lista final de 23 jogadores. Até lá, Ari tenta convencer também o treinador do Lokomotiv, o experiente Yuri Semin, que está no auge da forma novamente. Contra o Ufa, o brasileiro passou o jogo todo no banco de reservas. O peruano Farfán, que costuma jogar pelos lados do campo, foi remanejado para atuar de centroavante. Quando mexeu no time em busca de maior poderio ofensivo, Semin preferiu lançar o português Eder.
Desde que voltou de lesão, Ari disputou seis partidas pelo Lokomotiv, cinco como titular. Foi substituído depois do intervalo em todas essas. Para o atacante — e para o Lokomotiv —o relógio tem se mostrado cada vez mais um inimigo.

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