PARIS (AP) — "O estupro é um crime. Mas a paquera
insistente ou desajeitada não é delito, nem é o galanteio uma agressão
machista." Com esta declaração, um coletivo de mulheres — entre elas, as
atrizes Catherine Deneuve e Ingrid Caven — publicou um artigo no jornal
"Le Monde", nesta terça-feira, para defender a liberdade dos homens
"de importunar".
O texto tem o objetivo de contrapor o que chamaram de "campanha de delações" após o escândalo sexual do produtor Harvey Weinstein. Uma série de acusações contra o magnata encorajou vítimas de abusos de Hollywood e da sociedade a denunciarem os seus abusadores.
A centena
de atrizes, escritoras e jornalistas, como a escritora Catherine Millet, dizem
rechaçar o "puritanismo" que, segundo elas, se instalou após as
acusações contra Weinstein. Embora considere "legítima" a tomada de
consciência sobre a violência sexual, sobretudo no ambiente profissional, o
grupo avalia que o movimento obriga a se posicionar de certa forma e taxa de
"traidores e cúmplices" quem se nega a seguir as diretrizes.
O artigo
bate de frente com a campanha que estimula a quebra do silêncio das mulheres
que se viram abusadas e assediadas, promovida por centenas de celebridades de
Hollywood. Em contraste com o movimento "Time's Up", que vai custear as
batalhas legais de vítimas nos Estados Unidos, o outro grupo
defendeu homens que "foram penalizados na profissão ou obrigados a se
demitir quando seu único erro foi tocar um joelho, tentar um beijo, falar de
coisas íntimas no trabalho ou enviar mensagens de conotação sexual a uma mulher
que não sentia atração recíproca".
GRUPO VÊ
'ÓDIO À LIBERDADE SEXUAL'
Na visão
das autoras do artigo no "Le Monde", há uma "onda
purificadora" que levou a uma "febre de levar os cerdos ao
matadouro". A referência ao animal alude à campanha #balancetonporc
(Delate teu cervo), equivalente francês para o movimento #MeToo, no qual as
mulheres foram encorajadas a dividir suas experiências abusivas nas redes
sociais. Tal iniciativa e as mulheres que romperam o silêncio foram eleitas a
pessoa do ano da revista "Time", em 2017.
Para
Catherine Deneuve e as demais artistas, as "delações" não servem à
autonomia das mulheres, mas a inimigos da liberdade sexual, a extremistas
religiosos, a reacionários e a quem vê o sexo feminino como "uma criança
que
pede
proteção".
"Não
nos reconhecemos neste feminismo que, para além de denunciar abusos de poder,
encarna um ódio aos homens e à sexualidade", assegurou o coletivo, que
considera a "liberdade de importunar indispensável à liberdade
sexual".
Em março
do ano passado, Catherine Deneuve, de 74 anos, criou polêmica ao defender
publicamente o cineasta Roman Polanski, acusado de estupro. Para a atriz, o
diretor não sabia que a vítima tinha 13 anos. "Sempre achei a palavra
estupro excessiva", declarou.
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