A Noruega destruiu 97% de suas florestas, e agora quer ensinar a preservar
O governo da Noruega,
responsável por duras críticas a políticas ambientais do Brasil há duas semanas,
é o principal acionista da mineradora Hydro, alvo de denúncias do Ministério
Público Federal MPF do Pará e de quase 2 mil processos judiciais por
contaminação de rios e comunidades de Barcarena no Pará, município localizado
em uma das regiões mais poluídas da floresta amazônica. As informações são do
G1.
Além de enfrentar
ações na justiça, a empresa até hoje não pagou multas estipuladas pelo Ibama em
17 milhões de reais, após um transbordamento de Lama tóxica em rios por uma de
suas subsidiárias na região Amazônica, em 2009.
Segundo o Ibama, o
vazamento colocou a população local em risco e gerou mortandade de peixes e
Destruição significativa da biodiversidade. Dono de 34,3% das ações da mega
produtora mundial de alumínio, o governo da Noruega ganhou manchetes em todo o
mundo há duas semanas, após criticar publicamente o aumento do desmatamento na
Amazônia.
Constrangimento na
primeira visita oficial do presidente Michel Temer a Noruega, o país anunciou o
corte estimado em 200 milhões de reais no recurso que repassa ao fundo Amazônia,
destinado à preservação ambiental.
Dados do laboratório
de química analítica e ambiental da Universidade Federal do Pará – UFPA,
indicaram que um em cada cinco moradores da região onde estão as empresas
norueguesas está contaminado por chumbo, com uma concentração de elemento químico
do corpo sete vezes maior do que a média mundial.
Os tóxicos do Chumbo
no organismo provocam doenças nos sistemas nervoso e respiratório, problemas no
coração e efeitos extremamente preocupantes no desenvolvimento cognitivo de
crianças, segundo o MPF.
Como acionista em
várias empresas, o estado norueguês tem expectativas claras em relação à
responsabilidade social corporativa das empresas, incluindo questões ambientais,
afirmou o Ministério do Comércio, indústria e pesca do país a reportagem. O Ministério
não comentou diretamente as multas do Ibama que alega que a empresa dificultou
ação do poder público no exercício de fiscalização de infrações ambientais na
área da empresa.
O governo da Noruega
disse que a responsabilidade social é parte central do diálogo entre o
ministério e a empresa e afirmou que foi informado, assim como os demais
acionistas, das consequências do derramamento de 2009 pelos relatórios anuais
da hidro.
Procurada, a empresa
negou responsabilidade sobre os índices de contaminação registrados na cidade,
disse que investe em soluções sustentáveis e no diálogo com comunidades e
informou que o vazamento de rejeitos químicos em 2009 foi fruto de chuvas
intensas.
A Embaixada da
Noruega em Brasília não quis comentar o caso. A contaminação da rede de
abastecimento de água que atende apenas 40% da população local, os rios e Poços
Artesianos são a principal fonte de água na região da pequena Barcarena, que
viu sua população crescer em ritmos três vezes mais rápido que o do resto do
país nos últimos 40 anos, graças aos empregos gerados pelas mineradoras.
Com problemas em igarapés
que deságuam em rios como o Acaraú, Tauá, Poranga e Barcarena, o município experimenta
crescimento desordenado desde que foi se tornou um importante exportador de
commodities minerais como bauxita, alumínio e caulim, vegetais soja e animais (gado
vivo).
À BBC Brasil, a Hydro
questionou as pesquisas utilizadas pela Procuradoria da República, afirmando
que os derramamentos da subsidiária Alunorte não representam uma ameaça
significativas nem para a vida humana nem aquática.
A empresa também não
comentou as multas aplicadas pelo Ibama, mas disse que busca diálogo
transparente com todos os envolvidos no processo da mineração, e possui
rigorosos sistemas de monitoramento de água, solo e ar e que garante uma
conduta responsável com a sociedade e altamente importante em todas as fases da
operação.
Essa é uma empresa,
grande multinacional de um país que quer dar lição de moral e ensinar aos
outros a como preservar o seu meio ambiente, depois de ter destruído 97% de
todas as suas florestas.
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