domingo, maio 14, 2017

Wnaderléa

Luís Fernando Veríssimo (O Globo)

Não sei o que está sendo investigado do Maluf. Fiquei tão tocado com a descoberta de que ele, como a Wanderléa, ainda existe que não prestei atenção no resto da notícia.

Há dias li a notícia de uma investigação envolvendo o Paulo Maluf e fui tomado por uma emoção parecida com a que senti ao descobrir que a Wanderléa está viva, ainda cantando e bonitinha como nos tempos da Jovem Guarda, lembra?
Uma sensação de surpresa seguida de nostalgia e, confesso, até um certo enternecimento.

O velho Maluf, que o mundo parecia ter esquecido, ainda vivo, ativo — e solto.
Deu saudade do tempo em que ele era uma espécie de corrupto oficial do Brasil, o suspeito de sempre, que inocentava toda a classe política nacional pelo contraste.

Ninguém era tão corrupto quanto ele.
E como sua corrupção mais do que provada nunca deu cadeia e tornou-se até folclórica, ele também representava a tolerância histórica, o deixapralaísmo e o roubamasfazismo do brasileiro com a corrupção, até virem os tempos de Moro.
E houve uma reversão: antes Maluf inocentava os outros políticos porque nenhum conseguiria concentrar tanta corrupção quanto ele, hoje é tanta a corrupção revelada e generalizada que Maluf, pelo contraste, parece um amador.

Não sei o que está sendo investigado do Maluf, agora. Fiquei tão tocado com a descoberta de que ele, como a Wanderléa, ainda existe que não prestei atenção no resto da notícia. Parece que a investigação atual nada tem a ver com a inquisição de Curitiba.

Espantosamente, a operação Lava-Jato não se interessou pelo passado e pelas contas do Maluf, que deve estar se sentindo desprezado. E, decididamente, ultrapassado.

Cabelos
Planejando o assassinato de Júlio César, na peça de Shakespeare, os conspiradores discutem se devem ou não incluir Cícero no grupo. Um deles opina que os cabelos brancos de Cícero “nos trarão uma boa opinião, e comprarão a voz dos homens a nosso favor”.

Pensei no Lula, que deve a respeitabilidade que lhe permitiu ser eleito em 2002 em parte à sua barba branca, diferente da barba negra sindicalista que assustava tanta gente.

Há quem diga que foi a carta apaziguadora aos brasileiros que elegeu Lula pela primeira vez, outros dizem que foi o fastio com o governo Fernando Henrique. Eu sustento que foi a barba branca.


Se deixarem o Lula ser candidato de novo em 2018, ele precisará, acima de qualquer outro requisito, de ainda mais cabelos brancos como os de Cícero.

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