Nem a complacência interessada com que o poder
econômico e a imprensa/TV tratam Michel Temer –conduta que serve proteção para
um lado e ilusão para o outro– consegue escapar desta realidade deprimente:
Temer e Henrique Meirelles estão aturdidos, perdidos no emaranhado de suas
afirmações e logo recuos, incapazes tanto de fazer quanto de simplesmente
compreender.
E a verdade daí
decorrente é que, em dez meses, a situação do Brasil só se agravou, arrastando
nesse despenhadeiro todos os não dotados de recursos fartos. Sob o domínio da
incompetência e da perplexidade, o Brasil sufoca.
Em um só dia, o já
estigmatizado 31 de março, as páginas iniciais nos sites dos principais jornais
e do UOL davam, com diferentes níveis de exibição, estas informações:
"Corte orçamentário atinge transporte, habitação e defesa". O governo
superestimou as receitas, prática que dizia repelir, daí resultando um rombo de
R$ 58,2 bilhões nas suas contas. Como remendo, já em março Meirelles achou
necessário o corte de mais de R$ 42 bilhões nos investimentos do governo. Só as
obras do PAC perderão mais de R$ 10 bilhões. Os investimentos do governo são,
historicamente, o que ativa a economia. Logo, o corte é contrário à recuperação
econômica.
Outra: "Contas
públicas têm pior resultado para fevereiro em 16 anos", ou desde que
começado esse registro em 2001. A despesa do governo no menor mês foi R$ 23,5
bilhões maior do que a receita.
Mais: "PIB recua 3,6% em 2016". É o
país empobrecendo. Meirelles propalou, nos primeiros meses do governo Temer,
que antes do fim do ano (2016) a recuperação econômica já estaria em curso. Com
o corresponde resultado no PIB. As previsões vieram caindo em voz baixa. E o
resultado real é o desastre noticiado.
Ainda: "Governo
Temer é aprovado por 10%" (pesquisa CNI/Ibope, que em dezembro indicava
13%). Aquele número reflete o tamanho da legitimidade com que Michel Temer se
põe a agravar as distorções da Previdência. E reduzir ainda mais o valor do
trabalho, com a terceirização indiscriminada.
Para encurtar, por desnecessidade
de mais: "Brasil tem 13,5 milhões sem emprego e a economia continua em
retração". Esses milhões são o cálculo do IBGE para os que procuraram
emprego. Incluídos os que desistiram de procurá-lo ou não chegaram a fazê-lo,
há estimativas que vão a 20 milhões. Se "a economia continua em
retração", a probabilidade de desemprego é crescente. E suas
consequências, idem.
É o Brasil de Michel
Temer em poucas linhas. O governante dos recuos empurrando o país para a
calamidade.
Em tal situação, disseminar notícias
precipitadas de êxitos governamentais é mais do que fantasiar incertezas. O
governo não se entende com a economia e não é verdade que se entenda com o
Congresso, a menos que sucessivos recuos não sejam apenas fal- ta de
entendimento, de avaliação e competência. E de moralidade, com tantos símbolos
da corrupção revigorados nos cargos ministeriais e palacianos recebidos de
Michel Temer.
Na história brasileira,
não há nada semelhante a esse governo que perde, em sua média, um figurão por
mês, levado por acusação de improbidade (em um caso, por tê-la encontrado
dentro do palácio presidencial).
Devastado pelos
bandoleiros dos subornos, negociatas, desfalques, e estelionatos com nome de
"sobras de campanha", este país agora sofre a ameaça de ser destroçado
por um governo de ineptos, protegido em troca de alguns retrocessos de
legislação.
Jornalista Jânio de Freitas
Colunista e membro do conselho editorial da Folha, na edição de hoje
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