WASHINGTON (O Globo) - Donald Trump assume hoje o
governo dos Estados Unidos com a disposição de fazer uma série de mudanças que
poderá iniciar um novo ciclo político no país. O mais velho, mais rico, mais
outsider e mais inexperiente homem a chegar à Casa Branca tem a chance de dar
uma guinada conservadora na nação. Eleito com o discurso nacionalista — em alta
no mundo, sobretudo na Europa — o 45º presidente dos EUA se beneficia da onda
de direita que se fortalece entre os americanos e se reflete também no
Legislativo e no Judiciário.
O desmonte das principais políticas dos oito anos
de Barack Obama — que deixa o governo no auge de sua popularidade, mas que não
conseguiu eleger um sucessor — é apenas a primeira parte da agenda de Trump e
dos republicanos. Mudanças mais profundas poderão ocorrer nas relações
trabalhistas, na segurança, em questões ambientais, na imigração, na
desregulamentação do sistema financeiro, nas ações positivas a grupos
minoritários e em temas sociais, como saúde e o aborto.
— Existe a possibilidade muito grande de uma forte
onda conservadora, talvez até mesmo uma tsunami, principalmente se a economia
acelerar e Trump não cometer nenhum grande erro — afirmou Peter Hakim,
presidente emérito do Inter-American Dialogue. — Os membros do Congresso são
mais conservadores que nunca, os extremistas de direita estão organizados como
nunca vimos.
Para Eric Farnsworth, vice-presidente do centro e
estudos da Americas Society, Trump se beneficia da onda nacionalista.
— A política dos EUA claramente tomou um giro em
direção a um foco mais interno, uma tendência que começou na última década e
levou à eleição de Trump presidente. É uma vertente do conservadorismo que está
forte e se apresenta tanto com os contrários à globalização, como com
conservadores sociais e religiosos. A última vez que os EUA viram tal momento
politicamente foi durante a década de 1930, com a diferença que era uma Casa
Branca controlada por Franklin Roosevelt e um Congresso sob domínio dos
democratas.
Tea Party enfraquecido
O conservadorismo que beneficia Trump vem crescendo
desde a crise de 2008. A eleição do progressista Obama também foi o combustível
para que o grupo se reunisse no Tea Party — que levou o Partido Republicano
mais à direita. A aversão à globalização, a imigrantes e um certo temor das
rápidas mudanças sociais fizeram com que o grupo ganhasse peso.
A cada eleição, os conservadores conquistam mais
governos locais, mais vagas nos Legislativos estaduais e mais musculatura no
Congresso. E, até agora, nada dá sinais de que este movimento vá se inverter
nas eleição de 2018, no meio do primeiro mandato de Trump — salvo, claro, um
governo ruim do magnata.
Atualmente os membros republicanos da Câmara dos
Representantes e do Senado sabem que, se fizerem muitos votos
não-conservadores, provavelmente encontrarão, na próxima eleição, um oponente
de direita bem financiado em uma eleição primária. Eles (os republicanos) não
têm medo de perder para um adversário democrata nas eleições gerais, sua
preocupação é ganhar as primárias dentro do partido — explica Hakim.
O Judiciário é outro braço importante para esta
tomada conservadora — e Trump sabe disso. Ele já prometeu que indicará um juiz
“pró-vida” para a Suprema Corte — ou seja, alguém contra o aborto. Além de
acabar com o atual empate de forças na instância máxima do país com o nome que
será indicado nas próximas semanas, ele terá o poder de indicar até uma centena
de juízes para outros tribunais federais, dando capilaridade ao conservadorismo
nos estados:
— As novas indicações para cortes por todo o país
poderão solidificar a mudança dos EUA para uma direção conservadora — explicou
ao GLOBO Michael Traugott, do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade do
Michigan.
Mas especialistas indicam que a onda conservadora
pode não ser tão eficiente justamente por causa de Trump. Embora tenha sido
eleito com estas bandeiras, muitos o consideram um populista.
— Ele abraçou algumas destas ideias, mas há uma
certa confusão das linhas que acredita — afirmou Traugott.
David Schultz, professor da Hamline University,
afirma que sua fraqueza pode atrapalhar os planos dos conservadores. Trump
assume com menor patamar de aprovação da História, perdeu no voto popular e é
inexperiente na política. Os protestos que enfrenta desde candidato são uma
mostra de seus problemas:
— Trump está prestes a tomar posse e confrontar a
realidade. E muitos consideram que ele é um presidente de minoria e que nunca
foi popular como candidato. Ele entra no governo enfraquecido.
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