Depois
do procedimento, Raimundo não conseguia esconder a felicidade. “O sentimento é
de alegria. Agradeço primeiro a Deus e, depois, ao meu irmão, que disse que ia
doar e doou o rim para mim. Estou muito feliz com ele. Agora eu pretendo ir
para minha terra”, conta. Ele e o irmão são de Terra Santa, também no Oeste do
Pará, mas, por conta do tratamento de hemodiálise, teve que se mudar para
Santarém.
O
irmão também se mostrou feliz pelo resultado. Ele acompanhou, durante anos, o
sofrimento de Raimundo. “Foi um sonho que se tornou realidade.
Tenho
essa vontade desde a primeira vez que vim visitá-lo. Eu conversei com o médico
para ver qual era a possibilidade para ajudar meu irmão. Ele falou que tinha
essa possibilidade e eu disse que aceitaria', lembra Leandro. Ele fez os exames
para ver se era compatível e iniciou a caminhada. 'Hoje eu me sinto muito feliz
em poder ter ajudado meu irmão a sair da máquina, assim como toda a minha
família está feliz. Para mim isso é muito gratificante', revela.
Esse
procedimento marcou o início dos transplantes do Hospital Regional de Santarém,
que se preparava desde 2014. Até o final do ano, mais dois transplantes estão
previstos. “O transplante significa esperança e reascendeu uma luzinha que
estava meio apagada nos pacientes. Só pelo fato de termos marcado os
transplantes, já percebemos o clima completamente diferente dentro da
hemodiálise. Isso deu esperança para os pacientes que estavam fadados a ficarem
o resto da vida naquelas máquinas”, conta o responsável técnico de transplantes
do HRBA, nefrologista Emanuel Esposito.
A
previsão é de que a unidade realize 24 procedimentos em 2017, com uma média de
dois por mês. No início, a equipe médica do HRBA conta com o apoio técnico de
especialistas na área de transplantes. “O hospital tem plenas condições, com
bloco cirúrgico bem estruturado e equipe cirúrgica capacitada, que apenas
requer uma adequação a esse novo procedimento. O hospital e a região vão se
beneficiar muito com essa cirurgia, que vai dar nova esperança para esses
pacientes terem uma vida mais livre, com qualidade”, diz cirurgião Fabian
Pires, médico da Santa Casa de Porto Alegre (RS), e que comandou o primeiro
transplante da unidade.
Existem
dois tipos de doadores: os doadores vivos e os doadores falecidos. Entre vivos,
são feitos diversos exames para se certificar de que o doador esteja saudável e
possui rins com bom funcionamento. Também é avaliado o risco da realização da
cirurgia. É preciso que o doador vivo manifeste o desejo espontâneo e
voluntário de ser doador. A comercialização de órgão é proibida.
Já
no caso de doadores falecidos, é preciso que tenha o diagnóstico de morte
encefálica, com padrões definidos pelo Conselho Federal de Medicina. Para que a
doação seja concretizada, a família do doador deve autorizar o procedimento.
Por isso é importante expressar, em vida, o desejo de doar órgãos e tecidos. A
recusa familiar tem sido fator determinante para que o número de doações
permaneça baixo.
Para
conseguir atingir a meta de transplantes, o número de doações de órgãos vai ter
que aumentar na região. Serão necessárias, pelo menos, seis doações (doadores
falecidos) no ano que vem. A tarefa não é fácil, já que a doação de órgãos e
tecidos no Brasil ainda enfrenta diversas barreiras. O HRBA está habilitado
para realizar captações desde 2012. No entanto, é baixo o número de doadores. Entre
janeiro de 2012 e março de 2016, ocorreram 85 notificações de possíveis
doadores, mas apenas nove se concretizaram. O principal motivo ainda é a recusa
familiar. Em 29 casos, a família não autorizou a doação.
Em
2015, houve 25 notificações, mas nenhuma doação foi realizada. Em 2016, apenas
uma captação foi realizada. Desde 2012, o hospital captou apenas 49 órgãos,
sendo que foram 16 rins. “Só tem transplante se houver doação. É a única forma
de tratamento que depende da sociedade. Se eu precisar de uma cirurgia, por
exemplo, eu espero e faço. Mas se eu precisar de um transplante, se não houver
doação, eu não vou fazer. Temos sempre que lembrar que é uma via de duas mãos.
Eu posso estar na mão de ter um familiar que faleceu e doar o órgão ou eu posso
estar na mão de ter um filho que precisa do transplante”, alerta o tutor da
equipe de transplante do HRBA, nefrologista Valter Garcia.
Para
o diretor Geral do HRBA, Hebert Moreschi, esse dia vai ficar marcado na
história da saúde do Pará e da Região Norte do país. “Realizamos o primeiro
transplante renal que fecha um ciclo de assistência ao paciente renal crônico.
Sabemos que há uma grande demanda existente para essas patologias, nós temos
quase 300 pacientes que são assistidos pelo Hospital Municipal e o Hospital
Regional, que são potenciais receptores de um rim. O HRBA se transformará, em
breve, em um polo de transplantes. Tenho certeza que muitas pessoas terão uma
mudança completa de vida, com a independência da máquina de hemodiálise para
ter uma vida com qualidade”, destaca Moreschi.
Joab Ferreira - Ascom - HRBA
Joab Ferreira - Ascom - HRBA
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