Dr. Carlos Augusto Hummes |
O Dr. Carlos Augusto Hummes,
oncologista clínico, que faz parte da equipe de oncologistas do Hospital
Regional do Baixo Amazonas, sediado em Santarém, e diretor da Oncomaster,
clínica particular para tratamento de câncer, também localizada naquela cidade,
esteve há um mês em Itaituba, a convite da Ansonic, para participar da abertura
da programação intitulada Outubro Rosa, e Novembro Azul. Ele proferiu uma
palestra com muito didatismo, a respeito da doença que assusta qualquer ser
humano. Ele concedeu uma entrevista muito esclarecedora ao Jornal do Comércio
sobre esse assunto.
JC - O senhor falou, que hoje em dia,
ser diagnosticado com câncer, não é, necessariamente uma sentença de morte.
Dr. Carlos - É verdade. A chave do sucesso do tratamento está na
detecção precoce. Então, como muitas vezes as pessoas tem dificuldade de acesso
aos serviços de saúde, por uma questão de uma cultura de não procurar esses
serviços, ou porque por preconceito não procuram fazer os seus exames, dão
chance para que a doença se desenvolva. Tecnicamente falando, todos os cânceres
são curáveis. Basta detectar no momento certo.
JC - Há casos de pessoas, que mesmo
tendo condições, não procuram fazer exames preventivos; por isso, quando
descobrem algum de tipo de câncer, muitas vezes já não há muito o que se
fazer...
Dr. Carlos - Infelizmente isso também é verdade.
Tem uma situação que é da natureza humana, que é negar que tem uma determinada
doença potencialmente fatal. Isso pode acontecer com uma pessoa que é
promíscua, mas, não faz exame de HIV, ou em quem sente que está emagrecendo sem
aparentemente não sentir nada, ou em quem está com problema para urinar, ou em
mulheres que estão com sangramento vaginal, mas não vão ao ginecologista porque
tem medo de fazer um exame que possa confrontá-la com uma doença que pode ser
fatal. Isso é um grande inimigo da gente, e é como varrer a sujeira para
debaixo do tapete; uma hora a sujeira vai aparecer.
JC - Quais são os tipos de cânceres mais fáceis de
serem detectados no começo?
Dr. Carlos - Os cânceres cujos exames temos à
disposição, os quais podem mudar a história da vida de uma pessoa são: de colo
uterino, com o preventivo PCCU; de intestino, com a colonoscopia e a pesquisa
de sangue oculto nas fezes; de mama, com a mamografia e ultrassonografia
mamária; o câncer gástrico, com a endoscopia e de próstata com o exame de
sangue e o toque retal. Esses são os exames que basicamente detectam os cinco
tumores mais comuns. Já o câncer de pulmão, muitas vezes, quando é detectado já
é fatal. Então, o segredo é não fumar.
JC - Entre os homens, ainda é grande o
preconceito contra o exame de toque retal?
Dr. Carlos - Infelizmente, sim. Muitos homens
sentem-se feridos na sua sexualidade, ao terem que fazer um exame que introduz
um dedo no ânus. Esse é um exame que pode salvar muitas vidas, porque alguns
exames de sangue podem dar negativo e a pessoa pode ter câncer de próstata.
Então, a cada dez exames de sangue, um deles é negativo e a pessoa tem câncer.
Por isso, o exame do toque é essencial. Mas, muitos tem medo de fazer. O homem
já tem dificuldade de ir ao médico; geralmente vai com uma mulher, a mãe, a
esposa ou a filha, quando vai. Esse é um problema que a gente tem que mudar na
cultura das pessoas.
JC - Entre as mulheres, que costumam ser
mais cuidadosas com a saúde, ainda existe resistência a algum tipo de exame?
Dr. Carlos – Na verdade existe. Isso se deve à falta
de educação na questão da saúde, sobretudo entre aquelas de baixa escolaridade,
onde acontece a maior incidência de câncer de colo uterino. Muitas vezes,
embora muitas mulheres vejam na TV chamadas a respeito da importância de fazer
exames de rotina, elas não absorvem isso como uma realidade na vida delas. A
segunda situação é das mulheres que tem receio de mostrar seu corpo para um
médico, ou até para uma médica, para fazer um exame ginecológico. A terceira
questão é o marido que não deixa a mulher ir, temendo que alguém se aproveite
da situação de sua nudez, o que é um absurdo.
JC - Quem tem uma rouquidão crônica,
acompanhada de pigarro, deve tomar cuidados, pois isso pode ser um sinal de um
problema mais sério, como um câncer de garganta?
Dr. Carlos - A rouquidão, também conhecida como
disfonia, no termo médico é um dos sintomas com os quais a gente tem que abrir
o olho. Esse cuidado deve ser ainda maior entre pessoas que fumam, ou fumaram.
Uma pessoa que do nada, não era rouca e começa a ter uma rouquidão, sim, deve
ser avaliada por um especialista, que é otorrino para fazer o exame chamado de
laringoscopia. Rouquidão pode ser uma coisa séria.
JC - Nós vivemos muito próximos da linha
do Equador e por isso estamos sempre muitos expostos aos raios solares. Isso
contribuiu para que haja muitos casos de câncer de pele nessa área do globo
terrestre?
Dr. Carlos – Na verdade, é muito comum esse tipo
de câncer aqui. A gente tem uma população, etnicamente, aqui no Norte, nos
municípios de Itaituba, Santarém, Jacareacanga, Novo Progresso, Oriximiná,
Óbidos e outros, na qual as pessoas de origem indígena que tem uma pele dotada
de mais melanina, que é um fator protetor, que também incide sobre pessoas de
origem negra, que é menos suscetível ao câncer de pele. Mas, as pessoas que tem
origem europeia, que vivem na região, são mais suscetíveis, por terem menor
proteção de melanina, a desenvolver esse tipo de câncer, pelo fato que você
ressaltou na pergunta, de vivermos muito próximos da linha do Equador, onde o
Sol é extremamente agressivo.
Não
precisa nem ficar muito tempo exposto. Então, o ideal é que a pessoa de pele
mais clara use protetor solar acima do fator 50. Usar chapéu é outra
recomendação importante, mas, chapéu com aba larga. Esse é o câncer de maior incidência
no mundo inteiro. Como ele dificilmente mata uma pessoa, causa menos terror. Há
dois tipos de cânceres de pele. Tem o não melanocítico, que não vem de um
sinal, que são em torno de 80% dos casos, que geralmente, com uma cirurgia, ou
uma sessão de cauterização, geralmente a pessoa fic curada. Mas, se não cuidar
ele pode matar, pois pode espalhar-se pelo corpo.
O
mais perigoso é aquele que vem de um sinal, chamado melanoma. Então, um sinal
que muda de cor, que tem tamanho maior que seis milímetros, que tem as bordas
todas irregularidades, que é recente e é muito escuro, tem mais de uma cor,
coça e sangra, esse você tem que ir ao médico com urgência, porque esse sim,
pode se espalhar pela corrente sanguínea e ir para o cérebro, pulmão e fígado e
pode matar.
JC – Alguns doentes de câncer acham que
o tratamento em centros maiores é mais avançado. Isso tem fundamento, ou o
protocolo é o mesmo?
Dr. Carlos – Em relação ao atendimento feito pelo
SUS, o tratamento é o mesmo. Eu, que vim de Porto Alegre, e estou há quatro
anos aqui, faço cá, o mesmo tratamento que fazia lá. A maioria dos protocolos é
internacional. Se você vai fazer radioterapia, por exemplo, seja aqui, nos
Estados Unidos ou na Alemanha, a máquina vai ser a mesma. O SUS dispõe de nove,
entre os dez tratamentos mais atualizados, em qualquer estágio, em qualquer
fase, com medicamentos de alta tecnologia.
Em
algumas situações, que são poucas, há diferenças, mas, nós, oncologistas da
Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, estamos lutando para incluir no SUS
alguns tratamentos de última geração, que embora sendo poucos, fazem muita
diferença. Essa é uma questão de política de saúde que nós estamos tentando incluir.
Mas, de uma maneira geral, posso dizer que hoje, cerca de 95% dos tratamentos
de cânceres são os mesmos, do Oiapoque ao Chuí são os mesmos.
JC - Como se deu essa mudança em sua
vida, de Porto Alegre para Santarém? E gostou das condições de trabalho do
HRBA?
Dr. Carlos – O Hospital Regional do Baixo Amazonas
está entre os dez melhores hospitais públicos do Brasil. Eu, quando vim para
cá, vim de hospitais de ponta lá no Rio Grande do Sul. A primeira coisa que eu
quis ter certeza era onde eu estava me metendo, porque eu não conhecia o Norte,
esse lugar maravilhoso, onde provavelmente vou passar o resto da minha vida.
Queria me certificar de que eu poderia tratar os pacientes com qualidade.
Fiquei,
realmente, muito bem impressionado com o HRBA, que é uma pérola. É um hospital
muito bem administrado pela organização Pró Saúde. É auditado por algumas
instituições de renome nacional e estamos no nível mais alto, que é o nível de
certificação 3.
Nossa
próxima etapa será fazer transplante. Virá uma equipe médica para treinamento
de transplante de rim, que deverá ser o primeiro a ser feito. A dificuldade que
estamos enfrentando é que estamos recebendo pacientes de Belém, de Manaus e de
Macapá, o que sobrecarrega o HRBA. O Hospital Regional do Tapajós, aqui em
Itaituba, não vai ser de alta complexidade. Não terá tratamento oncológico.
Esses casos vão continuar sendo tratados em Santarém. Pelo menos é o que fui
informado.
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