sexta-feira, novembro 18, 2016

Dezembro de 2011: Os cinco erros que travaram a criação do Estado do Tapajós

O caso do Tapajós

Por M. Dutra

A campanha do plebiscito pela criação dos Estados do Tapajós e Carajás cometeu uma infinidade de pecados mortais, imperdoáveis, portanto. Um dos maiores erros foi a alteração do projeto que saiu da Comissão de Estudos Territoriais do Congresso, instalada logo após a Constituinte de 1988, quando o Tapajós viu desperdiçada a sua grande chance de aprovação.

A inclusão do Xingu, por obra do senador Mozarildo Cavalcante, de Roraima, foi algo tão estranho que deixou os antigos militantes calados, embora perplexos, sem ter respostas a dar aos contrários à divisão. O plebiscito terminou sendo produto da ação de um senador que sequer conhecia o Pará, sendo que jamais esteve nas duas áreas que desejavam emancipar-se. Prova da lastimável ausência de lideranças políticas no interior do Estado, com a consequente ausência de lideranças no movimento do plebiscito.

Cinco pontos foram decisivos para a derrota do Tapajós:

1) A aspiração simultânea do Carajás, uma demanda recente, do final do século 20; a simultaneidade foi um dos aspectos que direcionaram a votação: sabidamente, as elites de poder de Belém já não tinham tanta aversão à perda do chamado Baixo Amazonas, porém não abririam mão, jamais, do Carajás nem de suas jazidas e outras riquezas recém-exploradas;

2) A inclusão do Xingu, alterando o projeto original e acrescentando uma imensidão de território de modo distinto de todos os projetos apresentados nas décadas anteriores;

3) O desprezo de falsas e improvisadas lideranças de última hora pela profunda sensação de perda das elites tradicionais de Belém que, dos milhões de quilômetros quadrados do antigo e histórico Grão-Pará, chocaram-se diante de um possível mapa com apenas 17% que restariam do atual Estado do Pará, o que foi chamado de Parazinho pelo atual prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho; esse aspecto foi determinante na votação maciçamente contrária na capital e municípios satélites de Belém. Era como se o Pará tivesse derretendo;

4) A fraqueza e mesmo a inexistência de lideranças no Oeste paraense, com a campanha do plebiscito profundamente comprometida pelos arranjos politiqueiros tradicionais, com vários "líderes" omissos esperando no que daria a consulta popular para se posicionar, e velhos caciques aproveitando a ocasião para recobrar suas forças políticas enlameadas pelo absenteísmo e a corrupção;

5) A contradição brutal dos  argumentos de que um território menor seria melhor administrável, ao mesmo tempo em que o Tapajós teria um território bem maior do que o Carajás e o Pará remanescente.

A lista de erros da campanha é bem mais longa, além do fato de que, no aspecto constitucional da demanda, o plebiscito foi concebido para que nada se alterasse no mapa da Amazônia. São questões que, se não forem levadas a sério no futuro, jamais haverá Estado do Tapajós nem qualquer outra forma de reorganização interna dos limites político-administrativos da Amazônia. Com essa forma plebiscitária, jamais. Com a pobreza das lideranças do movimento que praticamente morreu nestes cinco anos após novembro de 2011, sequer se poderá cumprir a "profecia" do já falecido político e empresário Oziel Carneiro, contrário à divisão do Pará. Escreveu Oziel em O Liberal: "O Estado do Tapajós virá, seja no final deste século ou no próximo século..." 

A aspiração é antiga, vem do meado do século 19, logo após a criação da Província do Amazonas, separada do Pará. Tal desejo coletivo sobreviverá forte enquanto resistirem as condições de pobreza e pobreza extrema do chamado Oeste do Pará que, cada vez mais, se sente entre as mais pobres e abandonadas regiões deste pobre Estado.

Se as lideranças maiores do Pará tomarem vergonha na cara e resolverem conclamar todos os paraenses para a construção de um grande e próspero Estado, é possível que a chama do separatismo arrefeça. Como essa vergonha é altamente improvável, os tapajônicos prosseguirão, geração após geração, a sonhar em resolver seus graves problemas pela via da autonomia política e administrativa, forma de afirmação histórica e contemporânea. 
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P.S: Na capital do estado, Belém, o não à criação do estado de Tapajós chegou a 93,88% dos votos e o não à criação do estado de Carajás foi de 94,87%. Já nas regiões que demandavam a separação, incluindo as possíveis capitais dos novos estados, Santarém e Marabá, o apoio à divisão do Pará foi maciço.


Em Santarém, 97,78% dos eleitores que compareceram às urnas votou a favor da criação de Carajás e 98,63% a favor da criação de Tapajós. Em Marabá, 93,26% dos votos foram favoráveis à criação de Carajás e 92,93% a favor da criação de Tapajós.

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