sexta-feira, agosto 05, 2016

Um milhão de horas de voos

             A aviação brasileira é respeitada e reconhecida no mundo inteiro, por várias razões; dentre tantas, temos a segunda maior frota de jatos executivos do mundo; a cidade de São Paulo tem também a segunda maior frota de helicópteros, perdendo apenas para Nova York. Temos uma aviação agrícola bem desenvolvida, inclusive somos fabricantes de aviões agrícolas.
Nossa aviação militar até poderia ser mais bem equipada, mas ainda assim conquistou respeito e admiração onde se fez presente, e aí destaca-se o 1º Grupo de Aviação de Caça, que fez bonito nos céus da Itália durante a Segunda Guerra Mundial.
Devemos lembrar ainda da nossa Embraer, hoje a terceira maior fabricante de jatos de linha aérea, ficando atrás  apenas das gigantes Boeing e Airbus. Ressalto, também, que centenas de pilotos brasileiros estão voando em diversos países, sobretudo na Ásia e Oriente Médio. Seguidamente empresas estrangeiras vem ao Brasil recrutar nossos pilotos. E para fechar com chave de ouro toda essa grandeza, um brasileiro, Alberto Santos Dumont inventou o avião e o fez voar pela primeira vez .
        O Brasil, como sabemos, tem dimensões continentais, e se não fosse nossas seguidas crises econômicas, motivadas por também seguidas crises políticas, certamente teríamos uma aviação com muito maior pujança; ainda assim, como disse no inicio deste texto, nossa aviação é respeitada pelo mundo a fora.
         Bem, e onde entra nossa querida Itaituba nessa história? Qual a importância de nossa região na aviação brasileira e mundial? Muitos simples. Em meados dos anos oitenta, tivemos o aeroporto mais movimentado do mundo em aviação de pequeno porte, abastecendo as quase seiscentas pistas em todo Vale do Tapajós, com operações que contrariavam todos os manuais dos fabricantes de aeronaves, dada a precariedade das pistas e do excesso de peso, com destaque para a destemida habilidades dos pilotos, os chamados pilotos de garimpo.
Quem milita na aviação, sabe que nos quatro cantos desse imenso Brasil, o nome de Itaituba se destaca como a Meca da aviação de garimpo, ainda que tenha tido outros lugares onde se exerceu ou se exerce essa atividade, tais como Boa Vista, Alta Floresta, Redenção e outros lugares com menos visibilidade.
A aviação de garimpo teve seu inicio aqui no Tapajós, no limiar dos anos sessenta, atingindo seu ápice nos anos oitenta. Nessas quase seis décadas, por aqui flutuaram, transitaram, ou melhor voaram por aqui aproximadamente mil pilotos. Muitos deles ainda estão espalhados por diversos recantos do Brasil e no exterior, alguns ainda pilotando, outros com atividades diversas, e outros aposentados. Porém, muitos deixaram suas vidas nas matas desta majestosa Amazônia.
                Hoje, uma nova geração mantém com maestria essa gloriosa tradição de pilotos de garimpo. Alguns herdaram o DNA de seus pais, avós ou tios, mas também alguns da velha guarda, chamados de Velhas Águias, ainda estão por ai, emprestando sua experiência e contribuindo para o desenvolvimento de nossa querida região.
                Em agosto teremos um evento aqui em Itaituba, que talvez passe despercebido pela sociedade e mais do que isso, desqualificado até por alguns pilotos, eventos esse que reunirá em uma confraternização, um grupo com mais de oitenta pilotos que voaram no Tapajós nas décadas de 60, 70, 80 e 90. Virão de vários estados brasileiros; alguns saíram daqui há mais de trinta anos e nunca voltaram. Todos guardam lembranças inesquecíveis dos tempos que aqui viveram e voaram nesta verdadeira epopeia chamada aviação de garimpo.
            Na verdade, há um clima de grande emoção em torno desse encontro que ultrapassa as fronteiras da saudades, chegando ao amor que todos dedicaram ao Vale do Tapajós. Estima-se que nesse encontro, somadas as horas de voo de cada um, ultrapasse um milhão de horas.
                 Recentemente o Cmte Wilson escreveu um livro, com título de Voo Noturno,  uma quase auto biografia onde relata sua passagem como aviador e garimpeiro nas décadas de 80 e 90 aqui em Itaituba, porém ele recheia seus relatos com passagens de outros pilotos e garimpeiros. Pouca coisa foi escrita sobre a aviação de garimpo, sobretudo do Tapajós, alguns anos atrás o Cmte Luis Mendonça, piloto que também passou por aqui, voando e garimpando, escreveu um bom livro sobre nossa aviação, porém não teve o alcance merecido pela falta de divulgação, pois não tínhamos a facilidade que hoje os meios de comunicação oferecem, principalmente a internet. Soubemos que o Cmte Gustavo Albrecht, que estará no encontro, também escreveu sobre sua passagem como piloto de garimpo, quando por aqui voou na década de noventa, e embora ainda não tenha lido, acredito que deva ser um bom livro, pois sei do conhecimento do Albrecht sobre aviação, inclusive foi piloto de caça da Força Aérea Brasileira.
                 Um dos resultados positivos desse grande encontro que teremos em Itaituba é que por iniciativa do vereador Toinho Piloto, foi aprovado na Câmara Municipal de Itaituba, um Projeto de Lei, instituindo o dia 06 de agosto como o Dia do Piloto de Garimpo, no âmbito municipal. Espero que essa data sirva para ajudar a manter viva essa história que se insere dentro da história da garimpagem no vale do Tapajós, pois, infelizmente, por falta de registros boa parte dessa epopeia está se apagando, o que é uma pena, pois as futuras gerações ficarão privadas de conhece-la.


Na edição 217 do Jornal do Comércio, circulando desde hoje à tarde

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