Davi Menezes - Ex-presidente da CDL - Foto: JParente |
Há mais de cinco anos no cargo, está
terminando o mandato do atual presidente da CDL, o empresário Davi Menezes. Ele
tornou-se uma pessoa muito conhecida em função do dinamismo com que tem
exercido o comando da Câmara de Dirigentes Lojistas de Itaituba, o que, se por
um lado o projetou até mesmo politicamente, por outro lado custou algum
desgaste junto a uma parcela de filiados. Durante sua gestão conquistou
admiradores e alguns desafetos, mesmo fora da entidade. Davi conversou com a
reportagem do Jornal do Comércio, ocasião que aproveitou para fazer uma
avaliação do seu trabalho.
JC – Como se deu sua
chegada à presidência da CDL, pois o senhor pegou o bonde andando?
Davi – Eu sou filiado à CDL
há muitos anos, tendo feito parte de algumas diretorias. Quando eu assumi pela
primeira vez a presidência, o presidente era o empresário Afábio Borges, que se
afastou porque iria participar de uma eleição. Ninguém queria assumir. Durante
uns seis meses ficou sem presidente. O Afábio me procurou e informou que não
havia nenhum filiado querendo o cargo. Ele me convidou, foi feita uma reunião
de assembleia geral e meu nome foi aprovado. Fiquei um ano e alguns meses no
cargo, quando surgiram algumas situações que me fizeram afastar-me por uns
meses. O Afábio que era meu vice, assumiu por um ano e pouco. Eu voltei e
terminei o restante do mandato. Isso foi entre 2009 e 2010.
JC – E esse segundo
mandato, como tem sido?
Davi – Tem sido consequência
do primeiro. O trabalho que a gente estava fazendo agradou aos filiados.
Tivemos uma reunião da diretoria para ver se alguém queria lançar uma chapa,
mas, ninguém demonstrou interesse. Com isso, meu nome foi novamente confirmado
com presidente para mais um mandato.
JC – Que avaliação o
senhor faz da sua gestão?
Davi – No primeiro mandato
nós pegamos a CDL com alguns problemas, como no financeiro, na estrutura e na
divulgação da entidade que estava muito ausente da mídia. Começamos a atender
algumas demandas da classe empresarial e passamos a participar das discussões
de questões relativas à comunidade, o que contribuiu para elevar o nome da CDL
no nível que está hoje.
No segundo mandato nós demos
prosseguimento ao que já vinha sendo feito e tivemos mais algumas realizações
com a participação direta da CDL, citando como exemplo a criação do Fórum das
Entidades, do qual fui eleito presidente. Considero que isso foi muito
importante, porque junto com as entidades que compõem o Fórum, temos participado
de muitos momentos marcantes na defesa dos interesses da nossa população. Ao
fazer frente em várias ações como protagonista, o Fórum das Entidades tem
provado o que todo mundo sabe, mas, nem sempre faz, que trabalhar em equipe é
bom, pois juntos somos muito mais fortes, como aconteceu na interdição do
perímetro urbano da Transamazônica.
JC - Então, a CDL
deixou de ser apenas aquela entidade que se preocupa somente em defender os
interesses dos seus filiados, para ocupar-se, também, de temas de interesse da
coletividade de um modo geral?
Davi – Com certeza. A CDL,
hoje, tem um papel muito forte no nosso município. Quando acontece alguma
reivindicação da comunidade, a CDL é acionada para pugnar por ela. Atualmente a
CDL é uma referência na busca por soluções de demandas do nosso município,
junto com outras entidades.
JC – Em Itaituba
acontece certa inversão de valores. Na grande maioria dos municípios, a
Associação Comercial costuma, além de ter maior visibilidade do que a CDL, é
ela quem se envolve em questões da coletividade. Aqui tem se dado o contrário.
A CDL tem por costume cuidar mais de assuntos relativos ao crédito. Por que
isso ocorre em Itaituba?
Davi – Olha, são duas
entidades que se pode dizer que são afins, porque ambas tem seu trabalho
voltado para o comércio, para os negócios. No nosso caso, nosso principal
serviço está voltado, diretamente para os lojistas, para atender o varejo. Apesar
de algumas semelhanças, há diferenças na abrangência do serviço. Sabemos que a
Associação Comercial é uma das entidades mais fortes do Brasil. Creio que deve
estar faltando, no caso de Itaituba, as duas entidades estarem mais próximas
uma da outra. Quanto à maior visibilidade da CDL, entendo que isso se deve ao
trabalho da diretoria.
JC – No segundo
semestre do ano passado a CDL viveu momentos tensos. Principalmente a partir de
outubro, com a definição de que havia uma chapa de oposição a ser lançada. O
clima esquentou e terminou parando na justiça, lançando uma ameaça de cizânia
na entidade. Felizmente as duas partes de entenderam e não houve disputa. Foi o
seu momento mais difícil à frente da
CDL?
CDL?
Davi – Certamente sim.
Causou um desgaste na entidade. Marcamos a eleição, e no dia marcado para
acontecer chegou uma liminar da Justiça suspendo o pleito. Foi marcada uma
assembleia geral para o começo do ano, quando aparamos as arestas e marcamos
uma nova data para a eleição, que aconteceu no dia 15 de março. Criou-se uma
situação um tanto constrangedora, mas, felizmente conseguimos resolver numa
boa.
JC – O que lhe
motivou retirar sua chapa?
Davi – Essa diretoria da
qual faço parte já estava há quase seis anos à frente da nossa entidade, e eu
considero que fizemos a nossa parte, o trabalho que tinha que ser feito. Nunca
houve necessidade de duas chapas, e não seria agora que a gente forçaria a
situação para haver disputa, que em nada ajudaria. Por isso, achamos melhor
retirar nossa chapa. Além disso, não fazia nenhum sentindo continuar com aquele
clima de desarmonia. A nova diretoria que vai assumir é composta de pessoas
competentes, que tem tudo para fazer um bom trabalho.
JC – Alguma mágoa?
Davi – De jeito nenhum!
Não sairei com mágoa de ninguém. Nosso objetivo é somar. Se algum dia a
diretoria eleita precisar de mim, estarei disposto a colaborar. Se a gente
rachasse, isso seria muito ruim para nossa classe. E se eu não puder ajudar,
jamais farei nada para atrapalhar.
JC – Qual é a
diferença da Itaituba do momento em que você assumiu a presidência da CDL, para
agora, quando está saindo?
Davi – Nós assumimos a
CDL num momento de grande especulação em torno dos grandes investimentos que
estavam chegando. Primeiro os portos para embarque de grãos, que parecia algo
longínquo, mas, que começou a acontecer em pouco tempo. Em seguida veio o
alvoroço por causa da Hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, que se esperava
começar em breve. Isso tudo causou uma especulação econômica em Itaituba, que
fez disparar os preços de terrenos, imóveis e dos aluguéis. A construção civil
teve um aquecimento incrível, com a construção de muitos imóveis novos,
conjuntos e loteamentos. Vivemos entre três e quatro anos de um boom econômico
muito bom.
Isso tudo passou. Os portos estão
aí, alguns já em funcionamento, sem que se tenha alcançado, nem de longe, as
nossas expectativas, seja na geração de empregos duradouros para os nossos
trabalhadores, ou mesmo na área do comércio ou de serviços. As contrapartidas
são muito menores do que se esperava, e isso se deve muito à falta de
habilidade dos nossos governantes.
Hoje, vivemos uma situação de crise,
que se ainda não está no mesmo patamar do restante do país, é porque nós ainda
temos a produção de ouro que ajuda e muito a aquecer o nosso comércio. Muitos
empresários investiram seu capital na aquisição ou na construção de imóveis.
Isso pesou na nossa economia porque não houve a resposta que eles esperavam,
caso a obra da hidrelétrica tivesse sido iniciada. O que vemos hoje são muitas
lojas fechadas, muitos pontos para serem alugados e lojas fechando. É
preocupante a situação atual. Mas, digo aos empresários, que não desistam do
nosso município, porque aqui continua melhor do que em muitos outros municípios
do Brasil.
JC – Nossos
empresários tiraram alguma lição disso?
Davi – Creio e espero que sim. Acho que depois dessa
experiência, vamos estar todos mais preparados para enfrentar o que vem por aí.
Temos a experiência de Altamira, que viveu alguns anos de muita euforia por
causa de Belo Monte, mas, no momento começa a enfrentar dificuldades por causa
da diminuição do ritmo da obra que se encaminha para o seu final e por não ter
se preparado para enfrentar esse momento. Não podemos esquecer que esse
processo é sempre temporário.********Essa matéria está na edição impressa do Jornal do Comércio, número 212, que está circulando desde o final da semana que passou
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