segunda-feira, dezembro 07, 2015

Nas entrelinhas - Correio Braziliense

Da lama ao caos

O rompimento definitivo entre os presidentes da República, Dilma Rousseff, e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), era um desfecho mais do que prevísivel, necessário para a sobrevivência política de ambos. Desde que o frágil armistício entre os dois foi fechado, tendo Jaques Wagner e Michel Temer como fiadores, a expectativa sempre foi sobre quem cortaria a corda primeiro. Nunca foi vontade da petista salvar o parlamentar peemedebista e vice-versa. O período de cessar-fogo serviu para que ambos se armassem para o confronto final. Na quarta-feira, com o Palácio certo de que conseguiria aprovar a mudança na meta fiscal, o PT entendeu que a hora do confronto havia chegado. Cunha jogou a carta que podia jogar. E a política brasileira saiu da guerra fria para mergulhar no caos.

Até aqui, a queda de braço entre Dilma e Cunha provocou apenas prejuízos aos dois políticos, mas quem perdeu mesmo foi o eleitor. A petista não teve um campo mínimo favorável para a aprovação de reformas e projetos importantes para a economia. Com as contas no vermelho, desemprego e inflação a galope, a popularidade da presidente virou pó. O deputado, por sua vez, acabou como o alvo preferencial da Operação Lava-Jato e viu a investigação avançar sobre os seus calcanhares mais do que contra qualquer outro político envolvido nas denúncias. Pressionado, cometeu o erro político de declarar em público não ter contas na Suíça. Um erro que ameaça custar a cadeira de chefe da Casa Baixa e reduzir o horizonte que sua ambição insistia em enxergar.

Ao analisar o terreno para ambos, o processo contra Eduardo Cunha tende a ser mais rápido do que o de Dilma. A situação dele também é mais complicada. Na contagem fria do plenário, o peemedebista precisa de 257 votos para manter o mandato; a petista, de 171. Na hora da definição, o presidente da Câmara tem a seu lado boa parte do PMDB, PSC, PP e PTB. Precisará cabalar praticamente todos os votos da oposição. Como PSDB, DEM, PPS e Solidariedade necessitam dele no comando da Casa para garantir o trâmite do impeachment, segundo o ritmo mais favorável para o afastamento da presidente, terão de encontrar um discurso para salvar ou, ao menos, esticar ao máximo o mandato do político fluminense. Não será fácil bancar a posição perante a opinião pública.

Do lado do Planalto, para escapar do impeachment, Dilma conta com o apoio fechado de PT, PDT, PCdoB, Rede e PSol. Essas legendas garantem a ela cerca de 100 votos em plenário. Para fechar a conta, a petista precisará recorrer a partidos dúbios, como PR, PSD, PRB e o próprio PMDB. Todos têm assento na Esplanada, mas não costumam afinar com o governo a qualquer custo. Tendem a liberar as bancadas em plenário. Outras legendas, como PP, PTB e PSC, estão sob a órbita de Cunha e, mesmo com ministros nomeados por Dilma, não devem entregar sufrágios consideráveis.

Se a matemática fria dos votos em plenário favorece a presidente, ela tem o cenário mais propenso a mudanças devido às reações das ruas. As manifestações marcadas para ocorrerem a partir de 13 de dezembro serão um termômetro definitivo sobre a chance de aprovação do impeachment. Caso carreguem mais de um milhão às ruas, como no início do ano, o desespero baterá à porta do Planalto.

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