Os
mais otimistas achavam que quando os empreendedores de Mato Grosso chegassem a
Itaituba para construir seus portos em Miritituba, isso aqui iria se
transformar em terra onde correria leite e mel. Acreditavam que tinham um bom
coração, e por isso iriam gastar seu rico dinheiro para mudar o cenário da sede
do município, mas, principalmente do distrito aonde iriam se instalar. Sabem de
nada essas pessoas, como diz aquela propaganda onde aparece o Compadre
Washington.
Há aqueles, tanto daqui, quanto de
Mato Grosso, que fazem parte da minoria que tem dinheiro, que nunca gastaram
tempo algum pensando em benefícios para o município, pois estiveram sempre
muito ocupados em tratar de tirar proveito para eles mesmos, comprando terrenos
baratos para vendê-los por um preço multiplicado por algumas vezes. Também
existem alguns que tem pouca grana, mas, que farejam uma oportunidade de
intermediar um bom negócio através do qual auferem bons dividendos financeiros.
Houve até quem achasse que Itaituba
seria a nova Lucas do Rio Verde, que tem um Índice de Desenvolvimento Humano de
0,710, enquanto o daqui é de 0,640. Os donos ou chefões das empresas não iriam
querer viver em um lugar sem saneamento básico, com um uma infraestrutura
precária, de um modo geral. Enfim, uma terra com muita coisa para ser feita
para que ofereça uma qualidade de vida melhor para os seus habitantes.
Esqueceram-se que os donos ou os
chefões não virão para cá, a não ser em viagens de negócios. Logo, vão
continuar vivendo em cidades com um padrão de vida bem mais elevado. Daqui eles
querem os lucros que o encurtamento da distância para transportar sua soja para
os mercados norte-americano, europeu e asiático proporciona. Nada mais do que
isso.
Nós, em Itaituba, lamentavelmente,
mantemos uma característica comum dos tempos do auge do ciclo do ouro e
plenamente compreensível para aquele período: quase todo mundo vinha para com o
objetivo muito bem definido de ganhar o máximo de dinheiro que pudesse, no
menor tempo possível, para depois retornar ao seu lugar de origem para usufruir
a riqueza conquistada. O tempo passou, já se passaram duas décadas em que houve
o declínio na produção de ouro, do ouro de aluvião, mas, a mentalidade ainda
persiste. O individual está sempre acima do coletivo, E enquanto isso perdurar,
enquanto a sociedade não tiver consciência de que, se lutar unida será capaz de
mudar a vida de todos para melhor, vai prevalecer esse estado de coisas.
O progresso está passando; ele passa
nas centenas de carretas que chegam do Mato Grosso; ele desce pelo rio Tapajós
rumo à foz do Amazonas. Itaituba, via Miritituba é apenas uma escala para mudar
o modo do transporte. Saem de ação as carretas; entram em atividade as
barcaças. Já o desenvolvimento, esse fica lá no Mato Grosso, em Sinop, em Sorriso,
em Lucas do Rio Verde e em toda aquela região do norte mato-grossense que
produz soja em larga escala.
Semana passada esteve em Itaituba o
jornalista gaúcho Flávio Ilha, que trabalha para o UOL e vive em Porto Alegre.
Ele já trabalhou em outros grandes veículos nacionais, como O Globo, Folha, e
outros, do sistema RBS. Ele me disse que ficou impressionado com o número de
veículos da marca Toyota, modelo Hilux, na cidade. Perguntou-me o porquê de
tanto desses carros circulando por aqui, grande número deles com placas de Mato
Grosso. Eu falei que é efeito dos portos graneleiros que se instalam no
município.
Flávio quis saber como andam as
contrapartidas. Respondi que infelizmente até agora foram poucas, embora tenham
sido muito festejadas pelo governo municipal como se fossem de grande vulto.
Flávio, que veio preparar uma série de matérias que vão ser publicadas pelo
UOL, chegou à mesma conclusão das pessoas daqui, as quais vem chamando atenção
para a necessidade de o município reivindicar o que lhe é de direito: que a
cidade, mas, principalmente o distrito de Miritituba, já deveriam ter-se
beneficiado muito mais desse processo.
Para os que defendem a implantação desses
projetos a qualquer preço, o aumento desordenado do número de habitantes de
Miritituba, o crescimento preocupante da prostituição infanto-juvenil, o
tráfego de carretas pelo centro urbano do distrito, contrariando promessa da
ATAP de que não existiria, tudo isso é progresso. Quem crítica é retrógrado, ou
ambientalista que não tem o que fazer. Eu prefiro chamar isso de efeito rolo
compressor do capital, que não tem escrúpulo, nem constrangimento de passar por
cima de quem se coloque no seu caminho. E isso é só o começo.
Jota Parente (Publicado na edição 205 do Jornal do Comércio)
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