segunda-feira, outubro 19, 2015

Acorda, Itaituba! Crescimento não é sinônimo de desenvolvimento

      Jota Parente - Crescimento econômico, nem sempre é sinônimo de desenvolvimento. O PIB de um país, estado ou município pode crescer sem que isso signifique uma melhoria da vida das pessoas, como aconteceu em 2013 em Itaituba, quando o IBGE informou que o PIB do município havia crescido de forma considerável em 2012, sem que a grande massa da população do município tivesse sentido algum efeito positivo.
  Os defensores dos grandes projetos que se implantam em Itaituba, incluindo alguns políticos com mandato, costumam evitar entrar em detalhes mais profundos sobre esses empreendimentos, porque em sua visão, o progresso tem que chegar a qualquer custo. Todavia, se há progresso, deve haver desenvolvimento, mas, infelizmente, quando se trata desse tipo de crescimento que Itaituba está sendo compelido a experimentar, há um grande descompasso entre o capital, que ocupa a parte de cima da pirâmide e o povo do lugar.
   Como se mede o desenvolvimento? Através de indicadores de educação, saúde, renda, pobreza, etc. Atualmente o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH é o critério mais utilizado para comparar o desenvolvimento de diferentes economias. O IDH varia entre 0 e 1, numa analogia grosseira: o IDH do Inferno seria 0 e o IDH do Paraíso seria 1. 
    Só poderemos dizer que o desenvolvimento chegou de verdade a Itaituba, quando houver aumento real da renda das famílias, em vez de enganosos números que dizem ter havido crescimento da renda per capta, pois isso sempre acontecerá, toda vez que chegar um grande empreendimento ao município. Ao dividir-se o PIB pelo número de habitantes, a renda per capta subirá com a chegada de novos portos, ou com a hidrelétrica de São Luiz, mas, quem foi que disse que o município vai se transformar num paraíso só por conta disso?
      O fato de Itaituba aparecer na frente de Santarém no item renda per capta não quer dizer que necessariamente isso represente uma melhor qualidade de vida do nosso povo em relação àquele município. Até que o próximo estudo que vier a ser revelado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) mostre números diferentes, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Santarém, relativo a 2010, o mais recente, foi de 0,691, e continuava à frente de Itaituba, no quarto lugar no Estado, atrás apenas de Belém, Ananindeua e Parauapebas, todos acima de 0,700. Itaituba foi ranqueado no 23º lugar, com 0,640, enquanto Novo Progresso foi o 6ª, com 0,673. Esse é um dado relevante, pois trata da qualidade de vida de cada lugar (municípios, estados e países).    
     Sempre que alguém levanta a voz para questionar a maneira como o governo, federal e estadual, tratam os municípios durante a implantação dos grandes projetos, os que defendem o crescimento de qualquer jeito se apressam em dizer que esse ou aquele, ou aquela entidade são contra o desenvolvimento, em parte do não saberem o real significado desse vocábulo, enquanto outros por pura conveniência, procurando tirar alguma vantagem para si.
     Desde que ficou claro que os primeiros empreendimentos não tardariam a chegar, como não tardaram mesmo, venho batendo na tecla de que seria inútil lutar para que não fossem concretizados, porque a autoridade maior já havia decidido de cima para baixo, que mais cedo do que se pensava eles bateriam à nossa porte. Em vez de gastar o nosso tempo dando murros em ponta de faca, melhor seria discutir de forma madura as compensações que essas empresas poderiam dar ao município de Itaituba. Porém, até pedir a gente pediu pouco e mal, como disse um prócer dos empresários que investem nos portos graneleiros. Então, num primeiro momento nós deixamos escapar pela ponta dos dedos a oportunidade de melhorar de alguma forma a qualidade de vida de uma parcela de nossa população, aquela que vive no distrito de Miritituba, com chances de sobrar alguma coisa para a sede do município. 
     Simão Jatene, nosso ‘muy amigo’ governador, diante dos protestos do deputado estadual Luiz Seffer, que afirmou que parece esmola o que foi dado pela ATAP para Itaituba, interessou-se pelo assunto. Todavia, comenta-se que o estado é que poderá vir a ser beneficiado com a cobrança de impostos do movimento dos portos, em vez dos maiores benefícios virem para este município. Aí, fica complicado. Valha-nos quem, diria o comendador Mário Sobral.

Editorial publicado na edição 205 do Jornal do Comércio

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