Adelson Sousa |
A população de Itaituba, assim como a maior
parte dos brasileiros, tem pouco acesso a fontes alternativas de informações e
entretenimento como jornais, livros, filmes ou peças teatrais e com isso, este
espaço acaba sendo ocupado pelo rádio, internet e a TV que se sobressai por
estar presente em 98% dos domicílios do país.
Neste artigo vou me ater a analisar um pouco
da atuação dos meios de comunicação de massa em Itaituba, que entendo ser uma
espécie de pauta jornalística em construção. Especialmente pelo dinamismo que o
setor deve se impor e nem sempre pratica. O dia a dia está mais dirigido ao
chamado jornalismo chapa branca, onde se buscam logo as notícias nas
repartições públicas, para depois abrir espaço as demandas sociais.
O problema maior é propalar os poucos feitos
e deixar de questionar o muito não feito pelas autoridades, e assim ajudamos a
construir ou perpetuar no poder pessoas nocivas. Vivemos numa sociedade baseada
na informação e devemos entender que o grande jogo do poder se dá na mídia.
Para melhor entender um pouco do contexto do
município que tem 158 anos de existência, a chegada dos meios de comunicação em
Itaituba ocorreu por volta dos anos oitenta do século passado, portanto, é
recente. Os feitos são elogiáveis dentro das especificidades de um município privilegiado
por suas potencialidades naturais, energética (anunciada construção das pelo
menos 5 hidrelétricas no rio Tapajós), florestais (exploração desordenada da
madeira), portuária (uma dezena de portos de multinacionais para a escoação de
grãos sendo construídos no Distrito de Miritituba), além da famosa mineral,
cuja exploração do ouro ultrapassa meio século levando muita riqueza para fora
e deixando aqui uma ínfima quantidade o que é suficiente para ser anunciado
como responsável pelo maior percentual da economia local.
Dentro deste espectro de riquezas naturais o
município tem passado por ciclos econômicos, e a chegada dos meios de
comunicação ocorre atendendo um fato que, com exceções, é corriqueiro no
Brasil. Os donos de grandes fortunas buscam assumir o poder político visando à
ampliação deste e o domínio dos meios de comunicação para a sua sustentação ou
perpetuação no poder. Daí a imposição ou limitação do campo de atuação do profissional
de comunicação no Brasil e evidentemente em Itaituba, aqui com o agravante da
imposição do medo no período de alto índice de violência no auge da garimpagem,
onde poderosos mandavam na vida e determinavam a morte de muitos. Hoje a onda
de violência volta a aumentar com o advento do tráfico de drogas.
Todos esses fatores tem proporcionado um
crescimento desordenado do município e diante da medíocre atuação da classe
política local e regional, os meios de comunicação podem prestar um relevante
serviço contribuindo para a construção de um desenvolvimento sustentável, que
favoreça um convívio humano mais justo e com mais qualidade de vida.
Reportando mais diretamente a atuação dos
meios de comunicação e dos profissionais do setor em Itaituba, observamos que
medianamente cumprem seu papel de manter a população informada dos fatos que
interessam a sociedade. A estrutura tecnológica atende com um funcionamento de
qualidade audiovisual satisfatório. No aspecto do quadro de pessoal também
temos uma atuação significativa, que precisa ser mais reconhecida
economicamente e na atualização de conhecimentos específicos da área. Na
valorização profissional a Associação da categoria, que tem atuado no setor
social, deve se apresentar e cobrar melhorias assim como os direitos como a
data base para reajuste salarial dos trabalhadores.
Especificamente nos programas jornalísticos
temos um até compreensível excesso de comerciais, nos intervalos e os
irritantes testemunhais dentro do programa. Claro que isso faz parte do controle
do capital (mercado) que sustenta as empresas, mas essa cultura imposta deve
ser gradativamente alterada para a valorização do principal, a informação e a
quem ela é dirigida.
Compreendendo todos estes aspectos e com a iminente
chegada dos grandes empreendimentos a Itaituba e de milhares de pessoas, precisamos
ultrapassar o trivial e passar à construção de uma pauta mais questionadora em
relação a demandas.
Registro exemplos da péssima oferta de
serviços públicos, como a segurança (carência de estrutura física, equipamento
e pessoal). Saúde (falta de medicamentos, material e profissionais
principalmente médicos das áreas específicas em quantidade suficiente para
atender). Infraestrutura: (ordenamento urbano, combate à ocupação do espaço
público por construções particulares, construção de um terminal rodoviário e
ampliação do aeroporto).
Meio ambiente (degradação do rio Tapajós, licenciamento
para construção de portos, para a exploração madeireira, do ouro e demais
minerais, combate à ocupação e destruição de lagos, córregos e igarapés em
plena cidade e no interior). Transporte (combater altos preços e péssimo
serviço de embarcações e lanchas do transporte Itaituba/Santarém) ou na balsa
que faz a travessia Itaituba/Miritituba). Educação (pouca presença das
universidades públicas, precário funcionamento das escolas federal, estaduais e
municipais e baixos índices de aprovação e frequência). Espaços de lazer
(definir e respeitar os existentes nos bairros para praças, campos de futebol é
áreas públicas específicas). Abastecimento de água e energia elétrica (altos
preços e serviço sofrível e até inexistente em bairros da cidade).
Não mudaremos a realidade, pois, nossa
responsabilidade maior é informar, mas, muito podemos contribuir para mudanças
necessárias se passarmos a sistematicamente cobrar o não feito e deixar de
exaltar o pouco, pouquíssimo mesmo que fazem as autoridades. (Adelson Sousa, professor e jornalista)
Artigo publicado na
edição 203, comemorativa dos dez anos do Jornal do Comércio
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