Alison Doerzbach |
O SICREDI é uma cooperativa
de crédito que chegou recentemente a Itaituba, cuja criação remonta ao
longínquo ano de 1902, quando em 28 de dezembro foi constituída a primeira
cooperativa de crédito brasileira, na localidade de Linha Imperial, município
de Nova Petrópolis - Rio Grande do Sul. Provisoriamente, está funcionando em
uma sala cedida pelo SIPRI, nas dependências do Parque de Exposições Hélio
Gueiros, enquanto o prédio no qual vai se instalar está sendo construído na
esquina da travessa Justo Chermont com a avenida Nova de Santana.
Uma cooperativa de crédito
como O SICREDI é uma ferramenta importante para o desenvolvimento do lugar onde
ela se instala, porque não se trata de um banco convencional, cujo objetivo
primordial é o lucro a qualquer custo. Trata-se de algo bem mais elaborado no
sentido de viabilizar o acesso ao crédito de maneira mais em conta, para
pessoas físicas e pessoas jurídicas. Todavia, a seleção é muito mais rigorosa
do que na rede bancária, pois em vez de cliente, quem tem seu cadastro aprovado
no SICREDI torna-se um cooperado, devendo ser tratado pelos servidores da
cooperativa como patrões.
Alison Doerzbach é o gerente
do SICREDI em Itaituba. Já está exercendo suas atividades desde maio deste ano,
como foi dito antes, no Parque de Exposições, cuidando da composição da equipe
que vai trabalhar no atendimento ao público a partir do momento em que o prédio
estiver pronto, e fazendo os atendimentos possíveis. Ele conversou com a
reportagem do Jornal do Comércio.
JC –
A inauguração da SICREDI está confirmada para setembro?
Alison – A
parti estrutural, que é a estrutura física que a gente utiliza em cada cidade
onde nos instalamos, está prevista para setembro deste ano. Mas, enquanto isso
não acontece, estamos atendendo os nossos associados em nosso escritório aqui
no Parque de Exposições, com abertura de cadastros e alguma coisa de crédito. O
que nós não conseguimos fazer ainda é recolher numerário, receber contas...
JC –
Apesar de estar longe do centro comercial, tem havido procura pelos serviços
que vocês prestam?
Alison –
Tem, sim. Principalmente por parte das pessoas que já conhecem a nossa marca.
Itaituba é uma cidade que tem muita gente de fora, pessoas que vieram de outras
cidades, as quais já conhecem a marca SICREDI, as quais tem nos procurado,
assim como pessoas da cidade que tomam conhecimento do nosso trabalho tem nos
visitado.
JC –
Vocês tem uma expectativa de bons negócios em Itaituba?
Alison –
Nossa expectativa para Itaituba é extremamente positiva. Nós fazemos uma
análise detalhada do lugar onde a gente pretende abrir uma unidade, com muita
antecedência. São dois ou três anos antes. Levantamos os indicadores
econômicos, o perfil da população, quais são os principais meios de obtenção de
renda das pessoas, quais são as fontes de riqueza da cidade, quais são seus
aspectos culturais. Por tudo isso, nós concluímos que Itaituba é hoje vanguarda
no oeste do Pará. Itaituba é um polo comercial, polo educacional e o projeto
para instalar a cooperativa em Itaituba já ultrapassa seguramente quatro anos.
JC –
Quais são as principais diferenças entre o SICREDI e as instituições bancárias
convencionais, pois em um primeiro momento, por falta de informação, muita
gente pensa que se trata apenas de mais um banco que está chegando a Itaituba?
Alison –
Produtos e serviços de um banco convencional, com a diferença de que você é o
dono do negócio. Quando você abre uma conta no SICREDI você não passa a ser simplesmente
mais um cliente; você é dono, você é sócio. Isso faz uma grande diferença.
Quando um cooperado entra por nossa porta giratória, o nosso colaborador que
vai atende-lo sabe que quem está entrando é o dono da empresa na qual ele
trabalha. Então, desde o associado que tem R$ 40,00 ou R$ 50,00 na conta, até
aquele que possa ter milhões de reais na conta, tem direito de votar no
presidente do SICREDI. Aquilo que o SICREDI gera de resultados no final de um
ano – ano passado ultrapassou R$ 1 bilhão de lucro, que a gente trata no caso
de resultado positivo, como sobra – é devolvido ao associado.
Qual é outra instituição
financeira faz isso? Qual é outra instituição financeira devolve dinheiro ao
seu correntista? Esse é um grande diferencial. Especificamente em questão
tributária, uma cooperativa não tem o mesmo custo do IOF convencional. Você já
começa economizando três por cento em uma operação de crédito comercial. Numa
operação de R$ 100 mil, você já começa economizando R$ 3 mil.
JC –
A seleção para quem deseja ser associado do SICREDI é bem mais rigorosa do que
para alguém que abre uma conta bancária normal?
Alison – A
questão de abertura de conta é comum para todas as instituições financeiras.
CPF, RG, comprovante de endereço, comprovante de renda; é o básico que todos
cobram. Agora, para o SICREDI, especificamente falando, e aí eu falo em meu
nome e em nome dos nossos colabores aqui de Itaituba, conhecer essa pessoa é
muito importante. Queremos saber quem ela é. Quando a gente fala que o
associado e dono do negócio, a gente leva isso muito a sério. Nós não podemos
ter relacionamento com uma pessoa de má índole, que tenha problemas com a
Justiça, etc... Nós não vamos comprometer mais de três milhões que fazem parte
do SICREDI, hoje, por causa de duas ou três pessoas. É o princípio da
sustentabilidade.
JC –
Em função das exigências, o nível de inadimplência é baixo?
Alison –
Sim, isso reduz bastante o índice de inadimplência. Para se ter uma ideia, o
nível de inadimplência em créditos, de um modo geral, não ultrapassa 1%. Isso é
muito satisfatório. Nossa carteira de consórcios, por exemplo, tem um nível de
desistência muito baixo. Em sua grande maioria, os nossos associados conseguem
honrar os compromissos.
JC –
Com todos esses cuidados e exigências, o SICREDI tem também um baixo histórico
de fechamento de agências nos municípios onde se instala?
Alison –
No SICREDI não existe histórico de fechar unidades nas praças onde se instala.
Em muitas cidades, como no estado do Mato Grosso, onde a instituição é mais
forte aqui nesta parte do Brasil, em 14 cidades o SICREDI é a única instituição
financeira. Outro fator importante é que priorizamos a utilização da mão de
obra local. Aqui em Itaituba, 80% dos colaboradores que estão sendo preparados
para trabalhar com a gente são daqui do município. Inicialmente serão dez
pessoas. Essas pessoas já foram contratadas e já estão treinando, algumas no
Mato Grosso e outras em outros estados.
JC –
Numa primeira conversa, você disse que há muitos municípios nos quais de cada
três reais que circulam no comércio, um passa pelo SICREDI...
Alison –
No Mato Grosso, onde o SICREDI está há muito mais tempo do que no Pará, a cada
três reais, um passa pelos cofres do SICREDI. Isso ocorre em todo o estado. Se
for excluída a capital Cuiabá, Várzea Grande e os municípios da baixada
cuiabana, metade do dinheiro que circula dentro do estado de Mato Grosso passa
pelos cofres do SICREDI. Aqui no Pará, na região sul do estado, como Redenção,
a presença da nossa instituição tem mais de dez anos e é muito forte. Isso
mostra a nossa solidez. É importante ressaltar, que embora tenha nascido no Rio
Grande do Sul em 1902, atualmente, os três estados que apresentam os melhores
resultados financeiros, que dão mais lucro para o SICREDI são Mato Grosso, Pará
e Rondônia.
JC –
Aqui nesta região, quais são os projetos de expansão do SICREDI?
Alison –
Já estamos instalados em Santarém, Novo Progresso e Castelo dos Sonhos. Nossas
unidades de Itaituba, Rurópolis e Altamira serão inauguradas em breve (em
Itaituba já funciona em endereço provisório) e temos projeto de expandir os
nossos serviços para outros municípios do eixo das rodovias Transamazônica e Santarém-Cuiabá.
JC –
Na Europa, sobretudo nos países mais desenvolvidos, como Alemanha, Inglaterra,
França e de modo especial nos países nórdicos – Noruega, Suécia, Dinamarca e
Finlândia – o cooperativismo é muito forte. No Brasil está evoluindo a
consciência da importância de ser cooperado?
Alison – A
gente vê que sim. O brasileiro vem tomando consciência disso. Todo o lucro
gerado por uma cooperativa, circula no município, diferentemente do que ocorre
com os bancos tradicionais, nos quais os lucros vão para a matriz, que pode
estar em países bem distantes. E o SICREDI é a maior prova disso, pois uma
cooperativa que começou lá nos idos de 1902, em Nova Petrópolis, no interior do
Rio Grande do Sul, com apenas 30 associados, e hoje conta com mais de três
milhões de sócios, com mais de 1.100 pontos de atendimento em todo o país, isso
é motivo de alegria e uma prova de que o cooperativismo dá certo no Brasil.
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