quarta-feira, julho 15, 2015

O Chile é o Brasil que eu quero

helvécio-santos2Casagrande, ex-jogador e hoje comentarista, analisando o desempenho da Seleção na última Copa América, disse que o Brasil perdeu o protagonismo mundial e atualmente é a quarta ou quinta força do futebol sul americano, no que concordo plenamente.
No meu entendimento, duas coisas contribuem para tal estado, principalmente.
Primeiro, a especulação imobiliária e a visão oportunista e caótica de nossos mandatários que acabaram com os campinhos de futebol que antes eram formadores de grandes jogadores.
Seleção do Chilte
Hoje os jovens e adolescentes frequentam escolhinhas de futebol que só servem para os donos ganharem dinheiro e para os pais, temporariamente, tirarem os filhos da frente da televisão.
Futebol, o verdadeiro futebol, não se aprende em escolhinhas!
Em nível nacional, o melhor exemplo é o nosso imortal Garrincha que cresceu jogando pelada nos campos de terra em Pau Grande no Rio de Janeiro.
Em Santarém, dispenso-me de citar, pois os exemplos também são fartos e muitas laudas seriam preenchidas com o desfile de nossos craques de um passado não muito distante.
Houve um tempo em que, nas praias em frente à cidade, bastavam quatro pedaços de pau para as traves e uma bola para um bom “racha”acontecer. Do Laguinho à Vila Arigó jogava-se futebol nos finais de tarde e domingos pela manhã.
Afora as praias que eram mais concorridas, tínhamos também inúmeros campos. Como exemplo, cito: ao lado do Barão do Tapajós, ali na 2 de Junho com Benjamim Constant, atual Silvério Sirotheau Corrêa; o Campo do Veterano, onde hoje é o Mercadão 2000; o Campo do Morango, onde hoje é a Escola Pedro Álvares Cabral. Na Vera Paz, onde hoje tem um bosque (?), era reinado do Encontro das Águas, time do meu compadre Luis Gonçalves; o Campo da Sudam, lá pras bandas do Mapiri, isso só para citar alguns.
Nos colégios, tínhamos campo no Dom Amando, um oficial e um menor; no Batista, hoje reduzido a um acanhado seis contra seis e no Frei Ambrósio, todos abertos a quem quisesse bater uma bolinha.
Para minha tristeza, quase todos acabaram, o que acontece também por este imenso Brasil.
A segunda razão é a praga do empresário. Interessante é que o futebol tem empresário mas os clubes não viraram empresas, e aí está o erro.
Hoje, nem bem o moleque começa a dar os primeiros chutes, já aparece um empresário. Para jogar em um clube, grande ou pequeno, não é preciso praticar um bom futebol. Basta, sim, ter um bom empresário e essa é a razão de tantos “cabeças de bagre” e “butinudos” desfilarem ares de craque. Têm um bom empresário!
Aí em Santarém, e cito Santarém pois amo esse chão e também o meu LEÃO (Ih! Rimou. Aliás, o LEÃO sempre rima e rima bem com Santarém), nem bem o BARÇAZUL do Tapajós anuncia que vai participar do Campeonato do Parazinho e já aparece um empresário com uma “penca” de jogadores, na maioria, jogadores que sequer seriam escolhidos numa primeira rodada nas peladas do Coroas de Ouro, do Clube dos Trinta ou do Campo do Papai Agostinho. Ficariam bem melhor no Stopim do professor Afonso Cupu.
É claro, outras razões existem e a prisão na Suíça do ex-presidente da CBF deve ser suficiente para explicar a extensão do caos, razão de nossos pífios resultados nos últimos torneios, o que vem aumentando a cada nova rodada.
Na Copa do Mundo foi um vergonhoso 7 x 1 frente à Alemanha e na Copa América, nem é bom falar.
Deveríamos nos mirar no Chile!
Independente da qualidade técnica, dá gosto ver a dedicação e entrega dos jogadores do time andino. Do goleiro Bravo, vibrando como adolescente a cada defesa praticada, passando pelo zagueiro Medel, de 1,72m de altura, que no confronto final com a Argentina não perdeu uma bola sequer pelo alto.
Os zagueiros Thiago Silva e David Luis têm muito a aprender com o “baixinho”. O primeiro, como cabecear sem meter a mão na bola e o segundo, que o combate ao adversário é mais importante que ajeitar a cabeleira.
A despeito de todo o time merecer elogios pela técnica, pela garra e pelo espírito de equipe, meu herói é o Alexis Sánchez. Jogador que já jogou e ainda joga em grandes clubes da Europa, na Seleção Chilena ele se doa como se fosse marinheiro de primeira viagem querendo garantir uma vaga. Corre, leva pancada, cai, levanta e continua, seja dando combate, seja deslocando-se para dar opção a seus companheiros.
O “diferenciado” deveria aprender com o Sánchez que ele não é um “pop star”, mas somente um entre os onze. Talvez o “garoto” ainda esteja empolgado por jogar no Barcelona, o que para o chileno é coisa do passado.
Dá desgosto ver alguns dos jogadores brasileiros convocados chegarem com cara de enfado e ares de que estão fazendo um favor. Melhor fariam se ficassem na Europa e, para o bem do nosso futebol, se também ficasse longe da Seleção o atual técnico, arrogante e irônico, sempre procurando algo ou alguém para justificar os fracassos à frente do Selecionado.
Saudade dos tempos em que o jogador se sentia honrado em vestir a amarelinha, razão de eu afirmar que o Chile é o Brasil que eu quero, incluindo o técnico Jorge Sampaoli.
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Helvécio Santos, santareno, é advogado e economista. Reside no Rio de Janeiro. Escreve regularmente neste blog.
Publicado no blog do Jeso
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Meu comentário: Grande Helvécio, irmão de meu saudoso amigo e colega de trabalho por tantos anos da Rádio Rural, Eriberto Santos, penso exatamente igual a você a respeito da realidade do nosso futebol. 
Ontem eu conversei sobre esse assunto com os amigos Marlúcio Couto e Ivan Araújo. Na ocasião, disse a eles, que o futebol brasileiro, por tudo que o Helvécio disse em seu artigo e por mais algumas outras coisas, transformou-se em um produto híbrido. 
Os jogadores são muito parecidos no desempenho do seu futebol, e se fossem parecidos para o bem do futebol, se fossem craques, tudo bem. Mas, infelizmente, são parecidos na falta de criatividade. Viramos imitadores baratos do futebol europeu, tentando jogar como eles, mas, sem termos os mesmos craques de todas as partes do mundo. 
Há mais de um ano o narrador Galvão Bueno perguntou ao ex-jogador Vampeto, atualmente dirigente do Osasco, o que era preciso para um garoto ter uma oportunidade no time dele. Tem que saber jogar, respondeu Vampeta. Mas, isso não é o óbvio, Vampeta, perguntou Galvão.
Deveria ser, disse o ex-craque, mas, faz tempo que não é, pois hoje em dia o treinador das categorias de base olha primeiro para o tamanho do menino. Se ele é meio esmirrado, não serve. Fosse por isso, Romário, Bebeto, Zico, Messi, Maradona, e mais uma relação enorme de grandes craques não poderiam ter jogado futebol, porque eram pequenos.
Por causa de uma perna torta, um certo treinador do Fluminense do Rio, nos anos 50, mandou Garrincha embora, sem dar a ele uma oportunidade para sequer pegar na bola. O Botafogo e o mundo agradeceram, porque estava ali um dos maiores gênios do futebol mundial de todos os tempos.

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