Jota Parente - Um
dos assuntos mais polêmicos dos últimos anos é a defesa da descriminalização do
uso de drogas, que tem sido tratado com extrema ortodoxia em muitos países que
enfrentam situações muito graves, dado o crescente número de dependentes
químicos. O secretário de segurança do estado do Rio de Janeiro, que está no
cargo há muitos anos, está convencido de que isso tem que ser discutido a sério,
logo.
Ele afirmou semana passada, durante
uma viagem que fez a Portugal e França, onde proferiu palestras sobre sua
experiência, que a guerra contra as drogas, definitivamente, está perdida. Disse
que no Brasil, não pode passar desse governo a descriminalização do uso.
Beltrame ficou impressionado com os
resultados obtidos em Portugal após a descriminalização de todas as drogas,
inclusive heroína, cocaína. O programa
começou em 2000. No Brasil, não pode passar deste governo a descriminalização
do uso, afirmou ele. A guerra à droga é perdida, irracional. Podemos começar
pela maconha, disse ele, que convidou os portugueses para vir ao Brasil na
Semana do Policial, em novembro, e contar a experiência de seu país.
Em Portugal, o assunto “drogas” não está
inserido na polícia, mas no Ministério da Saúde. Com a ajuda de juízes,
procuradores, psicólogos, médicos, e integrantes da sociedade civil. A polícia
pega o usuário e ele é convidado a participar de encontros. São 90 clínicas em
Portugal, completas com toda a assistência, voluntários e visitas. E uma
comissão fiscaliza isso. Todos se juntaram para combater essa doença, porque o vício é
uma enfermidade, e não um crime. Sem vaidade,
sem luta de poder.
Por acaso, você conhece alguém, que algum dia
tenha deixado de consumir a droga desejada, somente porque é proibida no
Brasil? Acho que ninguém conhece, porque quando uma pessoa se torna um dependente
químico, ela vai procurar o produto que satisfaça o seu desejo incontrolável de
“fazer uma viagem”, seja onde for.
Nenhum país do mundo gasta tanto dinheiro no
combate às drogas como os Estados Unidos. Não há na face da terra quem faça um
combate tão feroz quanto os norte-americanos. E qual tem sido o resultado dessa
guerra? O aumento do tráfico, o enriquecimento dos carteis mexicanos e o
surgimento cada vez em maior número, de grupos internos que vivem do comércio
das drogas. E sabem por quê? Porque existe demanda no mercado, há poder
aquisitivo que atrai mais e mais traficantes a correr o risco de parar atrás
das grades, pois onde há dinheiro “fácil”, há atração forte em busca dele.
Quando eu era adolescente, na década de 1960,
a única droga da qual se falava na minha cidade era a maconha, e os maconheiros
eram quase todos conhecidos por seus nomes, pois não havia proliferação do uso
da cannabis sativa. Remotamente, ouvia-se falar no uso de uma ou outra droga
legal vendida nas farmácias.
Eu tive sérios problemas com uma droga legal,
o álcool. Algumas pessoas para as quais falo disso ficam espantadas, porque
quando cheguei a Itaituba em 1988, já não bebia há oito anos. Mas, foi duro
vencer a dependência. Todavia, nunca experimentei outras substâncias tóxicas.
Pelo contrário! Fazia apologia contra o uso de drogas em geral.
A maneira que encontrei de praticar a
prevenção entre os meus três filhos mais velhos foi falando do problema, de
frente, sem esconder nada, inclusive, minha experiência mal fadada com o álcool.
Ingo, Glenda e Raoni cresceram sabendo que seu pai havia enfrentado uma batalha
árdua até chegar à sobriedade em relação ao álcool; cresceram ouvindo o pai
mostrar em todos os detalhes através de informações consistentes, a desgraça
que as drogas causam na vida das pessoas. A mesma coisa já estou fazendo com o
Parentinho, do qual não escondo nada sobre esse polêmico tema.
A gente vai vivendo e aprendendo, e muitas
vezes mudando alguns conceitos. No meu caso, confesso que não faz tempo que
comecei a pensar sobre essa questão da descriminalização do uso de drogas,
porque do mesmo modo que o secretário José Beltrame, também entendo que a
guerra contra elas está perdida. Não que eu defenda que se possa colocar uma
banquinha na esquina de casa para vender maconha, cocaína, crack, etc...
Todavia, tanto o governo quanto a sociedade precisam discutir o assunto sem
reservas, enquanto que no seio das famílias, a única coisa que se pode fazer é
preparar os nossos filhos para se desviar desse monstro que destrói a vida dos
seres humanos que se envolvem com ele, destruindo inclusive as famílias. O
resto é conversa fiada.
Artigo da edição 201 do Jornal do Comércio, circulando hoje
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