Jota Parente - No segundo semestre de 2007, quando
ainda atravessava um inferno astral terrível em sua carreira política,
amargando índices de rejeição que só Benigno Regis e Edilson Botelho haviam
experimentado antes, Roselito Soares deu o pulo do gato e virou o jogo. Para
chegar lá, o então prefeito jogou bem com as cartas que tinha, as quais estavam
em mãos adversárias.
Houve momentos do seu governo em que
Roselito era vaiado até quando passado perto de garotos que estivessem jogando
bola. Ninguém queria saber de tê-lo como aliado naqueles momentos de agonia
política. Mas, é nos momentos de dificuldade que se separam os vencedores dos
derrotados por vocação, pois enquanto os primeiros não se acomodam, buscando
soluções para os seus problemas, os segundos conformam-se com a própria sorte,
achando que é tudo obra do destino, que é a vontade de Deus, e assim aceitam a
derrota por antecipação.
Dado o grau de amizade que nos une,
eu e o empresário Wilmar Freire costumamos conversar bastante amiúde sobre
muita coisa, fazendo consultas mútuas a respeito de assuntos que por ventura
suscitem alguma dúvida. Foi por esse motivo que no começo do segundo semestre
de 2007 ele me chamou para ouvir minha opinião a respeito de uma proposta que o
então prefeito Roselito Soares havia feito para celebrar contratos de
publicidade da prefeitura com as TVs Tapajoara e Eldorado e com a Rádio
Itaituba, hoje, Rádio Tapajoara. O objetivo oficial seria publicidade
institucional.
Roselito queria espaço à vontade
para fazer sua propaganda. Ele não estava interessado em fazer apenas chamadas
institucionais dos atos do governo municipal. Seu projeto passava pela
necessidade de reerguer seu nome junto aos eleitores, o qual estava rés ao
chão. E sabendo-se como ele age, não precisava de muito esforço para se chegar
à conclusão de que ele usaria muito, mas, muito bem o espaço que conseguisse
abrir.
Depois de ouvir as cifras que
envolviam a proposta, disse ao Wilmar, que do ponto de vista de empresário, ele
não poderia abrir mão de uma entrada mensal como aquela no caixa de suas
empresas de comunicação, pois o momento não era dos mais fáceis na economia
local. Entretanto, como presidente do PMDB, ele nunca poderia autorizar a
assinatura de tais contratos, pois se o fizesse, podia ter certeza que Roselito
Soares utilizaria com maestria os holofotes das câmeras das TVs e os microfones
da Rádio Itaituba.
O lado do empresário falou mais
alto, e Wilmar deu sinal verde para que fossem assinados contratos de suas
emissoras com a prefeitura. E o que se viu depois está escrito em artigo
assinado por mim do Jornal do Comércio, na edição que circulou no dia 7 de
outubro de 2008, dia em que parti para a primeira expedição de moto. O título
do artigo é: Roselito ressurgiu das cinzas, com a ajuda do PMDB.
Estou contando toda essa história
para refrescar a memória das pessoas que se envolvem direta ou indiretamente
nas contendas políticas, pois a paixão que norteia essa atividade, costuma
embotar, tanto a memória, quanto o raciocínio lógico de grande parte, conquanto
o coração, na maioria das vezes, fala mais alto do que a razão.
Já faz tempo que a prefeita Eliene
Nunes é dada como morta e enterrada para a política. Nunca mais vai conseguir
eleger-se nem como presidente de quarteirão, dizem os mais apaixonados,
contrários a ela. Não tem jeito, afirmam outros, a mulher está no fundo do
poço, e não há corda suficiente para puxá-la de volta.
Hoje, tudo isso faz muito sentido.
Se houvesse uma eleição para prefeito, neste momento, ela não teria a mais
remota chance de se reeleger. Já o ex-prefeito Valmir Climaco poderia
encomendar um terno novo, pois ninguém tiraria dele a vitória. Acontece que a
eleição não vai acontecer hoje, mas, somente daqui a dezesseis meses. A partir
da data de publicação desta edição, estarão faltando 445 dias para a eleição
para prefeito municipal. É muito tempo a se percorrer até lá, tempo suficiente
para Eliene confirmar que é mesmo uma grande decepção como liderança política
que não vingou, ou para virar o jogo.
Não tem sido poucos os erros da prefeita.
Em relação ao que tange à política, então, os desacertos se sucedem. Mesmo
alguns assessores próximos da gestora, em conversas reservadas admitem que é
preciso mudar muita coisa para reverter o quadro desfavorável. E as mudanças
não se restringem apenas às questões de ordem administrativa. Elas passagem
pelo comportamento de Eliene, que desde que assumiu o governo, parece querer
reinventar a roda com seu “novo modo de fazer política”.
Roselito Soares não deve ser apontado como o
único responsável pela eleição dela, mas, a participação direta dele, Eliene
nunca teria sentado na cadeira de prefeita. E ele foi o aliado de primeira
hora, que convenceu o ex-vereador César Aguiar a desistir de concorrer à
prefeitura, para apoiá-la. César só desistiu por causa da boa conversa de
Roselito.
César Aguiar seria a terceira força da
campanha. Pelos números do momento em que desistiu, ele teria chance de obter,
entre e quatro e seis mil votos. Certamente, a maioria dos sufrágios que ele
obteria, viria de eleitores alinhados com a proposta política de Roselito.
Logo, ele tiraria muito mais votos de Eliene, do que do então prefeito Valmir
Climaco. Por isso, fica mais do que evidente a importância fundamental de
Roselito na eleição de 2010.
Mas, não foi somente Roselito que Eliene
escorraçou do grupo que a elegeu. Muitos outros estão por aí, como é o caso do
empresário Ivan D’Almeida e do empresário Paulo Gilson Pontes, que hoje pilotam
seus próprios projetos, visando a chegar ao poder ano que vem na condição de
chefe do poder Executivo. O próprio César Aguiar, que antes da posse falava
“vamos governar juntos”, na esperança de que as promessas de campanha de um
governo participativo fossem cumpridas, abandonou a nau após constatar que era
um Chefe de Gabinete que tinha tanto poder quanto um pinguim de geladeira. E
nesse tempo todo, ela não conseguiu nenhuma adesão significativa que pudesse
sacudir os meios políticos.
Por falta de habilidade política dela e pela
ausência de um articulador capaz de aglutinar, o governo desconstruiu sua
maioria folgada na Câmara Municipal. Faltou seguir o elementar princípio que
deve existir em qualquer lugar ou atividade, que diz, é conversando que a gente se entende. Em função de não querer
dialogar foi que nasceu e cresceu a CPI que tem tudo para dar muita dor de
cabeça para esse governo. No momento, o Poder Executivo não tem condições de
aprovar nenhuma matéria que precise de dois terços dos votos, caso não seja um
projeto de real interesse do município. Mesmo votações por maioria simples
estão complicadas.
Apesar de tudo que escrevi, na contramão do
que pensa muita gente, eu não considero que a prefeita Eliene Nunes possa ser
considerada totalmente fora do jogo. Muito pelo contrário, acho que depende
dela e das circunstâncias, uma reviravolta nessa situação. Em virtude das
grandes dificuldades porque passam governo do estado e governo federal, com
caixas apertadíssimos, não vai ser fácil para ela arrancar dinheiro de Belém e
de Brasília para transformar a cidade em um canteiro de obras. E em Itaituba,
quando se fala em obras, a primeira coisa que vem à cabeça é pavimentação
asfáltica de ruas, muitas ruas.
Se neste verão ela conseguir recursos para
manter a cidade trafegável, pelo menos nas principais artérias, asfaltando uma
ou outra rua e travessa, e sobretudo, se a partir de abril do ano que vem, a Eliene
tiver recurso para colocar máquinas nas ruas, pavimentando ruas, esse quadro de
desgaste que é terrível nos dias de hoje, poderá mudar drasticamente para
melhor, pois é assim que as coisas acontecem na política em Itaituba. O humor
do eleitor itaitubense é muito volúvel. Porém, se os cofres dos governos
estadual e federal não se abrirem, vai ficar mais complicado.
Morta e enterrada para a política não dá para
afirmar, mas, a carreira política da prefeita Eliene Nunes está hoje na UTI.
Sair dessa situação dependerá de muito jogo de cintura, e não bastará apenas
acreditar que o carisma que Eliene esbanjou na campanha de 2012 vai resolver o
problema, porque não vai. Apensas inaugurar obras feitas em parceria com o
governo federal também não será a solução mágica, pois os dividendos políticos
dessa tática estão sendo bem mais modestos do que ela esperava. Será preciso um
conjunto de medidas, que passam tanto pela administração do município, quanto
nas atitudes políticas para mudar esse jogo. O tempo joga contra ela, e o
relógio não para.
Na edição 201 do Jornal do Comércio, circulando hoje
Nenhum comentário:
Postar um comentário