Jota Parente |
Quando eu cheguei a
Itaituba em agosto de 2005, com quase 55 anos de idade, plenamente capaz, de
continuar sendo uma pessoa produtiva, física e mentalmente, estava um tanto
desnorteado pelos acontecimentos que mudaram o curso de minha vida, os quais resultaram
na perda de minha primeira esposa, Eliede.
Vim com a cara e a
coragem, sozinho, na quase certeza de aqui encontraria apoio para desenvolver o
projeto que trazia na cabeça, que seria montar um jornal impresso, o que já
tinha feito com pouco sucesso em 1998, talvez porque não tivesse encarado com a
seriedade que a empreitada exigia, sobretudo do ponto de vista de negócio.
Até aquele momento,
eu havia passado praticamente toda minha vida profissional como empregado, a
maior parte do tempo no comando de equipes de esporte ou de jornalismo, ou de
emissoras. Sempre procurei agir com muito profissionalismo, o que me rendeu um
bom conceito entre os meus chefes e entre meus colegas de trabalho. Mas,
naquela ocasião em que estava de volta para Itaituba sentia-me diferente.
Nunca reclamei por
ter trabalhado por cerca de três décadas para os outros, porque foi nos
empregos que me deram que me mantive e mantive minha família. Pelo contrário.
Recordo com saudade daqueles tempos, principalmente dos muitos amigos que fiz
na caminhada por emissoras de rádios, e numa segunda etapa da vida, também na
TV.
Jamais me senti um
homem de televisão. Digo sempre com quem converso sobre minha vida
profissional, que ter passado pela TV foi um acidente de percurso que não fazia
parte dos meus planos. Mas, também foi bom, porque foi mais um aprendizado que
tive na convivência com colegas do porte de Ivan Araújo, por exemplo.
O Rádio foi sempre a
minha casa e a minha grande paixão, e foi através do Rádio que eu me tornei
conhecido em grande parte desta nossa região Oeste do Pará. Mas, ao mesmo tempo
em que comandava equipes de esporte, de jornalista ou na condição de diretor de
emissoras, fazia um extra em jornal impresso, desde os primórdios de 1975,
quando o saudoso amigo Artur Martins, como diretor, e outro saudoso amigo, Leal
di Souza, como editor responsável deram-me a primeira oportunidade de ensaiar
alguns pequenos textos, pois estava habituado a preparar textos menores, que
eram as notícias dos acontecimentos esportivos.
Quem nasceu depois de
1980 nunca ouviu falar de A Província do Pará, jornal fundado em 1876, que teve
uma longa vida de 125 anos. Durou até 2001, mas, já era uma publicação de
pequena tiragem que circulava apenas em Belém. Porém, durante muitas décadas
foi um dos mais importantes jornais da história do estado do Pará, tendo
pertencido aos Diários Associados, de Assis Chateuabriand, paraibano de
Umbuzeiro, o magnata da imprensa brasileira dos anos 1950 a 1970. De tão
importante que ele foi, virou até nome de município, no Paraná. O outro jornal
muito respeitado era a Folha do Norte, que durou de 1896 até 1974.
Pois foi em A
Província do Pará que eu debutei no jornal impresso, escrevendo uma coluna de
esporte para um encarte que a gente preparava sob o comando de Leal di Souza,
mandava para Belém e vinha como encarte de A Província. Era muita bagagem que a
gente ganhava ter uma oportunidade daquela que teve um significado muito grande
no meu futuro como jornalista.
Poucos anos depois,
mesmo quando A Província ainda circulava em todo o estado, Artur conseguiu os
direitos para fazer voltar a circular uma publicação que foi a única de
Santarém por muitos anos, que era o Jornal de Santarém, para o qual passamos a
escrever. Preparava-se todo o material, incluindo o material fotográfico, que
era revelado e copiado em Santarém mesmo, e era enviado para Belém, porque
àquela altura era mais negócio mandar imprimir na capital por questões de
custos e de qualidade final do jornal. Às vezes, quando surgiam matérias
importantes em cima da hora, o filme nem era revelado, sendo mandado para
Belém, onde o restante do trabalho era feito. Eram outros tempos, em que nem se
sonhava com fotografia digital.
Até chegar ao Jornal
do Comércio, eu ainda tive mais algumas experiências enriquecedoras, como a
volta de a Folha do Norte, cujo título havia sido adquirido há alguns anos pela
família Maiorana, dona de O Liberal. Em 1980, o jornalista Manuel Dutra, então
gerente da Rádio Rural de Santarém, obteve autorização para editar a Folha do
Norte, em Santarém.
Dutra formou uma
equipe de primeira, da qual fizeram parte Leal di Sousa, Douglas Lima, Sampaio
Brelaz, eu e o próprio Dutra, que era o editor responsável. Durante mais de um
ano nós produzimos um jornal de qualidade muito boa, que era muito respeitado
em Santarém e na região, nos municípios em que circulava.
Alguns anos mais
tarde tive uma passagem pelo Jornal Tapajós, comandado pela empresária Vânia
Maia, que hoje é a diretora do Grupo Tapajós de Comunicação. Também tratava-se
de uma equipe muito competente, na qual minha atividade restringia-se ao setor
de esportes, tendo uma página sob minha responsabilidade.
Porque estou contando
isso no momento em que o Jornal do Comércio está chegando à sua edição de
número 200. É porque se tudo isso não tivesse acontecido na minha vida
profissional, provavelmente eu não tivesse o conhecimento suficiente para me
dar certeza de que eu tinha competência profissional para tocar o meu próprio
projeto. E isso eu tenho absoluta convicção de que tinha naquele momento
crucial da vida, quando muitos, já se encaminhando para a casa dos 60 anos
jogam a toalha. Mas, se pelo aspecto profissional eu não tinha dúvida de que a
única coisa que precisava era desenferrujar, pois já fazia anos que não
produzia um jornal, por outro, faltava o lado empresarial, que nunca foi o meu
forte.
Cheguei aqui sem uma
folha de papel para escrever um rascunho. Literalmente, vim com a cara, a
coragem, com o conhecimento e a experiência adquiridos ao longo dos anos, e com
muita, mas vontade de fazer algo diferente, que pudesse ser bem acolhido pelo
público. Vinha determinado a criar o meu próprio jornal, sem ter, como disse no
começo do parágrafo, uma folha de papel para escrever. Mas, tinha crédito,
credibilidade e acima de tudo, amigos que esperava que não me abandonassem. E
eles não me faltaram na hora precisa.
O Jornal do Comércio
nasceu na residência de um amigo muito especial, aquele irmão que não é de
sangue, mas que é um irmão que a vida me deu de presente, chamado Wilmar
Freire. O primeiro gesto de compreensão dele foi logo na chegada, quando lhe
falei dos meus planos, que incluam o total afastamento da política partidária,
na qual militei como coordenador de campanhas, dele e de seu pai Wirland
Freire.
Sidney Jr. foi outra
pessoa fundamental naquele começo, pois foi através dele que consegui apoio
financeiro da prefeitura, então comandada por Roselito Soares, para imprimir as
primeiras edições do jornal na Gráfica Globo. Esse conjunto de fatores tornou
possível a circulação da primeira edição do Jornal do Comércio, no dia 3 de
setembro de 2005.
Duas semanas antes de
o jornal ser lançado, chegou minha esposa Marilene, que só viria a ser Parente
a partir de 2008 quando casamos no civil. Sua vinda foi da maior importância
para a existência do jornal, pois já tinha uma ótima experiência em vendas, por
ter trabalhado como corretora de seguros no Bradesco, tendo tido oportunidade
de fazer alguns cursos bancados pela citada instituição bancária. E foi
exatamente a partir de sua chegada que foi alavancado o setor comercial.
Algumas pessoas
acreditaram na proposta daquele pequeno jornal; pequeno no tamanho e pequeno no
número de páginas que eram somente doze. Chegaram a me perguntar se eu estava
ficando maluco por lançar um periódico com tais dimensões. E ainda por cima,
preto e branco. O tempo encarregou-se de mostrar que a decisão foi correta.
Durante esses quase
dez anos de atividade ininterrupta, o Jornal do Comércio vem crescendo continuamente
no conceito da comunidade itaitubense e no número de páginas, que hoje são 24.
Às vezes, dependendo da necessidade, circulamos com um número maior, mas, o
número padrão é vinte e quatro páginas.
Sonhei muito com este
momento que alcançamos e com o outro que está próximo de acontecer. Chegar à
ducentésima edição em uma cidade que ainda não tem grande tradição do hábito da
leitura e estar bem perto de completar dez anos são marcas que nos envaidecem,
sem perdermos a consciência de nossa responsabilidade cada vez maior de ser um
veículo de credibilidade junto aos nossos leitores.
Quando projetei o
Jornal do Comércio, achei que deveria fazer uma publicação diferente do
tradicional da imprensa do dia a dia para oferecer aos leitores uma opção
alternativa ao que se assiste, se ouve e se vê nos noticiários da imprensa de
qualquer lugar deste país. Foi por ter feito essa opção, que o Jornal do
Comércio não tem página policial. Ocorrências policiais só são estampadas em
nossas páginas se fugirem ao trivial, como crimes que chocam toda a comunidade,
grande apreensão de drogas, e assim por diante.
A outra decisão foi
evitar ser um jornal pautado por notícias do varejo que já tivessem sido
esgotadas por outros veículos. Não queremos ser meros repassadores de informações.
Discutimos os assuntos e emitimos nossa opinião sem achar que somos os donos da
verdade, com o objetivo de contribuir com o aclaramento dos temas tratados. Além
disso, decidimos que o JC não seria alinhado a nenhum grupo político para que
pudéssemos ter independência para fazer as críticas que tivessem que ser
feitas, contra quem quer que seja que esteja no poder. Seguimos a célebre
máxima de Millor Fernandes: Imprensa é
oposição; o resto é secos e molhados. Não nos consideramos, nem melhores,
nem piores do que ninguém: apenas um pouco diferentes.
Não nos cabe mérito
exclusivo na construção dessa história. Aos poucos fomos nos juntando aos
nossos parceiros comerciais, sem os quais não haveria jornal. Alguns nos apoiam
quase que desde o princípio. Da mesma forma deve ser ressaltada a participação
dos assinantes e leitores de um modo geral, que nos motivam com seus
comentários, incluindo as críticas bem colocadas que servem para a gente
corrigir algo que fuja ao padrão.
Nos Estados Unidos e
em alguns países da Europa fala-se que já há até data prevista para jornais
impressos pararem de circular. Todos os jornais e revistas, até já migraram
para a mídia eletrônica, o que já acontece em larga escala. No nosso caso
brasileiro, embora em muitos casos tenhamos comportamento de colônia em relação
aos países mais desenvolvidos do que o nosso, nem tudo que acontece por lá, vai
acontecer obrigatoriamente aqui.
Mesmo sendo o Brasil
o 5º país com maior número de acessos à internet, apenas 38% dos brasileiros a
acessam diariamente. O que isso significa? Significa que ainda vai levar um
longo tempo até que a grande maioria da população brasileira tenha acesso a esse
serviço de forma continuada. Por isso, a sobrevivência das publicações
imprensas como jornais está assegurada por ainda um bom tempo.
A possibilidade de
migrar totalmente para a mídia digital já foi aventada por nós. Entretanto, ao
analisarmos as nossas peculiaridades locais, chegamos à conclusão de que
deixaríamos de oferecer um bom serviço para nossa comunidade, caso cessássemos
a versão impressa do Jornal do Comércio. Portanto, vamos continuar por mais um
bom tempo.
200 edições para um
jornal quinzenal, que em alguns momentos, como quando precisei me ausentar para
tratamento de saúde, circulou no máximo uma vez por mês é uma marca para ser
comemorada. Obrigado a todos que tornaram possível este momento. O Jornal do
Comércio deixou de ser apenas uma publicação do Jota Parente e da Marilene
Parente, para se tornar um veículo de informação de Itaituba. Isso muito nos
satisfaz.
Artigo publicado na edição especial de número 200, que
circula desde segunda (29/06)
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