domingo, abril 23, 2017

Pará: um assassinato a cada duas horas

A cada 113 minutos - ou seja, menos de duas horas –, uma pessoa é assassinada no Pará. É o que se pode constatar diante dos números do Sistema Integrado de Segurança Pública (Sisp), que indicam que em janeiro e fevereiro deste ano foram registrados 767 assassinatos em território paraense. São quase 13 (12,78) mortes violentas por dia no Estado, onde, ao que parece, a vida está banalizada. No ano passado, 4.196 foram vítimas de morte violenta no Pará, segundo o Sisp.

Nos últimos homicídios registrados na Região Metropolitana de Belém, o que mais tem se observado é que a maioria destes casos consiste em execuções sumárias. Em outras palavras, grande parte dos assassinatos registrados no Pará e em Belém corresponde a crimes por encomenda.

Assassinatos premeditados, nos quais as vítimas já estavam marcadas para morrer.

E os prováveis motivos também são comuns entre as ocorrências: acerto de contas, vingança. O tráfico de drogas é sempre o centro destas ocorrências violentas. Um exemplo destas mortes premeditadas foi a do Edielson Carvalho dos Santos, de 26 anos, no último dia 18, em Ananindeua. 

Ele tinha acabado de deixar o Fórum Criminal, onde assinou o Termo de Compromisso da Liberdade Provisória, e foi abordado na parada de ônibus por 2 homens armados, que o alvejaram com 7 tiros. A vítima respondia a vários processos, entre eles pelo homicídio de um policial militar em novembro de 2015.

Pará: um assassinato a cada duas horas (Foto: Antônio Melo )A história da morte de Edielson mostra que os assassinos apenas esperavam pela saída dele do sistema penal. Seis dias após deixar a Central de Triagem da Cidade Nova, onde estava preso, foi executado.

Testemunhas disseram que os atiradores pediram para as pessoas que estavam na parada de ônibus arredarem e ficaram frente a frente com a vítima, o que leva a acreditar que eles sabiam onde e em que horário a vítima estaria. Aparentemente, não podiam esperar mais para executar o crime, que está sendo investigado pela Polícia Civil.

Na última quinta-feira, 20, o cobrador de ônibus Antônio Guilherme Santos da Silva, 46 anos, foi assassinado a tiros no Curuçambá, em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém. A Polícia investiga o caso como se tratando de execução, pois nenhum pertence da vítima foi roubado.

Uma testemunha alega que os suspeitos aguardavam a vítima passar pelo local do crime para atirarem.

Também nas últimas semanas, o Pará foi destaque nacional com o assassinato de Andreza Ariani Castro, a “Senhorita. Andreza”, 22, no bairro da Cabanagem, limite entre os municípios de Belém e Ananindeua. O caso segue sob investigação e até agora ninguém foi preso. As características do crime apontam para uma provável execução.

Segurança pública do Pará está na UTI,diz deputado

A fama de ser “terra sem lei” nunca coube tão perfeitamente no Estado do Pará como agora. Esta colocação foi reforçada pelo deputado estadual Lélio Costa (PC do B), na Assembleia Legislativa, no decorrer desta semana. Para ele, líder do partido que tinha como filiada a “Senhorita Andreza”, o crescimento da violência colocou a Segurança Pública do Estado numa espécie de UTI, na qual quem está agonizando e morrendo é a população, sobretudo a população de baixa renda, que vive nas áreas de vulnerabilidade social, onde o tráfico de drogas é intenso.

“Não conseguimos enxergar, no horizonte, a perspectiva de que os problemas serão solucionados. Pelo contrário, a inoperância do poder público é visível, os problemas não são efetivamente enfrentados”, frisou Lélio. “Assistimos com perplexidade a Semana Santa se transformar em semana sangrenta no Estado do Pará. Assaltos com reféns; latrocínios; execuções; carro prata executando jovens na periferia; policiais sendo mortos; uma realidade que já faz parte da nossa rotina”, colocou o parlamentar, que completou que este banho de sangue acontece sob o “silêncio cúmplice do Estado”.

“Estamos largados à própria sorte”, desfechou o deputado Lélio Costa, que lamentou o fato de o Governo do Estado insistir num modelo ultrapassado de Segurança Pública. Um sistema que, segundo ele, está falido e incapaz de resolver os problemas da sociedade paraense.

(Denilson D'Almeida/Diário do Pará)

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