RIO (O Globo) - O jogo da "baleia azul", série de
50 desafios cujo objetivo final do jogador é acabar com a própria vida, está
movimentando as redes sociais, principalmente desde o início desta semana,
quando a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) do Rio
divulgou que está fazendo um rastreamento das redes sociais para reunir
informações sobre o jogo. Um inquérito foi instaurado depois que a mãe de um
menino de 12 anos denunciou que o garoto foi convidado a participar da série de
desafios.
O jogo
consiste em uma série de 50 desafios diários, enviados à vítima por um
"curador". Há desde tarefas simples como desenhar uma baleia azul
numa folha de papel até outras muito mais mórbidas, como cortar os lábios ou
furar a palma da mão diversas vezes. Em outra tarefa, o participante deve
"desenhar" uma baleia azul em seu antebraço com uma lâmina. Como
desafio final, o jogador deve se matar.
O
"curador" é quem envia ao participante do jogo os 50 desafios que ele
deve cumprir diariamente até chegar ao suicídio. Se condenado, ele pode ficar
preso por mais de 40 anos. (3 anos por associação criminosa, 8 anos por lesão
grave, 6 meses por ameaça e 30 anos por homicídio).
O GLOBO
teve acesso à mensagem recebida por um carioca de 22 anos convidando-o para entrar
no jogo na última quinta-feira. No texto, há uma ameaça: "Caso nos
bloqueie ou nos ignore, mandaremos seu número a nosso chefe. Ele pegará seus
dados e descobrirá seu nome".
O conjunto de tarefas se tornou preocupação para autoridades
de diferentes países. A origem do jogo que incentiva o suicídio não é
conhecida, mas os primeiros relatos surgiram na Rússia. Em fevereiro, duas
adolescentes se jogaram do alto de um prédio de 14 andares em Irkutsk, na
região da Sibéria. Segundo investigações, Yulia Konstantinova, de 15 anos, e
Veronika Volkova, de 16, se suicidaram depois de percorrer as 50 tarefas
enviadas. Em sua página no Facebook, Yulia tinha compartilhado a imagem de uma
baleia azul.
O perfil das vítimas
O perfil das vítimas
A
delegada Fernanda Fernandes, da Delegacia de Repressão aos Crimes de
Informática (DRCI) do Rio, está traçando o perfil dos participantes da 'Baleia
Azul'. Segundo ela, os convidados a entrar no jogo são adolescentes que têm, em
média, de 12 a 14 anos, e com tendência à depressão. A maioria resiste em sair
do jogo por temer ameaças dos administradores.
Moradora
da Zona Oeste do Rio, Mariana (nome fictício), de 15 anos, é uma sobrevivente e
recomenda que outros jovens adolescentes não entrem no jogo macabro.
Como a
polícia está atuando
Há
notícias de casos de suicídio relacionados ao jogo da baleia azul em diversos
estados. No Rio de Janeiro, a delegada Fernanda, da (DRCI), disse, na última
quarta-feira, que os "curadores" do desafio podem ser indiciados até
por homicídio.
De acordo
com Fernanda, um inquérito foi instaurado para investigar os crimes de
associação criminosa, ameaça, lesão corporal (em relação às automutilações
praticadas pelos participantes) e homicídio tentado ou consumado. A delegada
informou, ainda, que notificará as secretarias municipal e estadual de Saúde
para que casos de mutilações graves em adolescentes e jovens sejam comunicados
diretamente à DRCI.
policiais
Civis do Paraná estão investigando as circunstâncias de sete tentativas de
suicídio de adolescentes, todas ocorridas nesta terça-feira na capital do
estado, Curitiba. A Secretaria municipal de Saúde avalia que pode haver uma
relação entre esses casos e o "jogo da baleia azul". De acordo com
autoridades, os jovens tinham sinais de automutilação e de ingestão de
remédios.
Em Minas
Gerais, a polícia investiga o caso de um garoto de 19 anos, encontrado morto no
último dia 12, em Pará de Minas, no centro-oeste do estado. O celular do jovem
já foi periciado e as autoridades aguardam o resultado do laudo.
Um
inquérito foi instaurado no Mato Grosso para apurar as circunstâncias da morte
de uma adolescente de 16 anos, encontrada numa represa de Vila Rica. De acordo
com as autoridades, a mãe da jovem teria identificado cortes nos braços da
vítima há cerca de dois meses. Ela também entregou à polícia duas cartas escritas
a mão pela filha. Os investigadores aguardam ainda o resultado da perícia no
celular da jovem.
Repercussão
Nacional
A Câmara
dos Deputados aprovou a realização de uma audiência pública para discutir o
"jogo da baleia azul". A reunião, ainda sem data marcada, será
promovida pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da
Casa. Os organizadores da audiência convidarão um representante da Unicef
Brasil e o youtuber Felipe Neto, que gravou um depoimento em seu canal no site
de vídeos para alertar as famílias sobre o jogo e sobre a necessidade de
atenção à saúde mental dos adolescentes.
Na
audiência, representantes do Facebook e do WhatsApp, meios em que os jovens são
geralmente cooptados para o jogos, deverão explicar o que as empresas têm feito
para combater a propagação do jogo na web. O senador Magno Malta (PR-ES) também
pediu, nesta quarta, urgência para a leitura do requerimento de instalação da
CPI dos Maus Tratos Infantis, com o objetivo de investigar diversos tipos de
violência contra crianças. Um dos argumentos foi o jogo da Baleia Azul.
A
deputada Eliziane Gama (PPS-MA) solicitou à Polícia Federal, nesta quarta-feira, que
investigue o desafio "baleia azul", que incentiva a
automutilação e o suicídio entre jovens e adolescentes. O ofício foi endereçado
ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello, e pede a abertura de inquérito para se
chegar aos responsáveis pela propagação do jogo, praticado em grupos fechados
nas redes sociais.
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