sexta-feira, setembro 04, 2015

O jornal impresso, sua nova linguagem e o bom jornalismo interiorano

Manuel Dutra
São incontáveis os debates e as opiniões sobre o futuro do jornalismo impresso, hoje assediado por múltiplas formas de produção e disseminação da notícia. De início, deve-se considerar que nem toda informação postada sob qualquer forma na internet é notícia, é texto jornalístico. Um sem número de pessoas está nas ruas e por toda parte registrando fatos que logo são midiatizados nos suportes digitais e/ou oferecidos à mídia tradicional onde (supostamente) se transformam em informação jornalística.

É importante o registro de acontecimentos realizado por qualquer cidadão, especialmente quando imagens e sons apanhados ao acaso são potencialmente de interesse coletivo. Graças à ação de pessoas anônimas muitas informações úteis chegam à televisão, ao rádio e aos jornais, prestando assim um serviço à coletividade. No entanto, não se pode confundir a essência do fazer jornalístico com a mera captura de informações ao acaso por pessoas que não são repórteres, mesmo sendo esforçadas em contribuir com a revelação de fatos que não podem passar despercebidos da sociedade.

O jornalismo tem as suas regras e algumas dessas regras de ouro são a apuração dos fatos, a criteriosa verificação de sua veracidade e o julgamento da importância e do interesse coletivo sobre fatos a divulgar. Logo, um acontecimento não apurado não serve, a priori, para se tornar notícia. A apuração, em princípio, é atividade específica do repórter, caso contrário, aquilo que pode estar sendo passado como informação jornalística pode ser, ao final, apenas um boato, produto de uma informação não investigada e verificada. Pode ser fruto apenas de uma aparência.

Por sua própria condição profissional, é ao repórter que cabe a tarefa da apuração, até porque o cidadão que registra um acontecimento com sua câmera portátil nem sempre terá tempo e habilidade para realizar a verificação do fato registrado. Muitas vezes são imagens apanhadas de um carro em movimento, sem que a pessoa que fez o registro pare para efetivamente verificar o que acontece.

Essa regra vale para todas as formas de jornalismo, seja nos suportes digitais, seja em papel. É evidente que o jornalismo impresso sofre hoje as coerções do ambiente digital, mas ele continua tão útil, possivelmente mais necessário do que antes, quando não sofria tal concorrência avassaladora. Por isso, na atualidade o jornal impresso busca novas linguagens, com muita dificuldade.

Pesquisadores preveem que o jornal em papel não desaparecerá, mas terá que reencontrar-se, tornando-se mais analítico, mais investigativo, apurando os fatos com maior profundidade e oferecendo ao leitor um momento de análise e reflexão daquilo que já foi publicado em tempo real nos dias e horas precedentes. Daí que o impresso, segundo alguns teóricos, tende a deixar de ser diário para ser oferecido uma, duas ou três vezes por semana, mais ou menos sob a forma de revista, em que a novidade já conhecida é interpretada e enriquecida com a pesquisa de novas fontes.

O impresso tende a tornar-se um novo jornal, menos noticioso e mais interpretativo, logo, necessitando, mais do que nunca, de um novo jornalista, melhor preparado e capaz de informar, refletir e interpretar, em diálogo com o leitor.

Faço estas breves reflexões para parabenizar o Jota Parente no momento em que comemora a primeira década de seu Jornal do Comércio, de Itaituba. Se está chegando aos dez anos é porque está se atualizando, está buscando a sua própria linguagem com a qual se comunica com seu universo de leitores.

O diálogo entre o impresso e os meios digitais é uma necessidade; em todos os recantos do mundo, hoje, o impresso interage com a internet e a sua luta deve ser evitar permanecer no velho estilo do jornal meramente noticioso. Hoje a notícia é dada a todo momento, durante 24 horas, nos blogs, nos portais, nos smarts que hospedam as chamadas redes sociais. O que fica, então, para o impresso é aquele diálogo que, com menos pressa do que a busca, apenas, do furo jornalístico, procura esmiuçar o fato, produzindo uma narrativa mais pensada que aprofunde a narrativa noticiosa.

Isso acontece tanto nas grandes cidades como nas pequenas. Em Itaituba, a presença reconhecida do Jornal do Comércio demonstra que, pela argúcia e compreensão do momento presente, José Parente tem sabido situar seu corajoso jornal, sintonizado com os anseios sociais locais e regionais, com pautas que dizem respeito às realidades vivenciadas pela coletividade da imensa região do Rio Tapajós com os seus enormes desafios e imensas potencialidades. Um jornal que aprendeu a dialogar com a comunidade de seus leitores, assim como interagir com os tentadores meios eletrônicos. Nos tempos que correm, dez anos de jornalismo impresso equivalem a um século. Portanto, que o Jornal do Comércio, de Itaituba, continue dando o exemplo de bom jornalismo a todo o Oeste paraense por mais um século.


Artigo publicado na edição 203, comemorativa dos dez anos do Jornal do Comércio. Esse artigo foi publicado, hoje, no blog do jornalista Manuel Dutra

Nenhum comentário:

Postar um comentário