Manuel Dutra |
São incontáveis os debates e as opiniões
sobre o futuro do jornalismo impresso, hoje assediado por múltiplas formas de
produção e disseminação da notícia. De início, deve-se considerar que nem toda
informação postada sob qualquer forma na internet é notícia, é texto
jornalístico. Um sem número de pessoas está nas ruas e por toda parte
registrando fatos que logo são midiatizados nos suportes digitais e/ou
oferecidos à mídia tradicional onde (supostamente) se transformam em informação
jornalística.
É importante o registro de acontecimentos
realizado por qualquer cidadão, especialmente quando imagens e sons apanhados
ao acaso são potencialmente de interesse coletivo. Graças à ação de pessoas
anônimas muitas informações úteis chegam à televisão, ao rádio e aos jornais,
prestando assim um serviço à coletividade. No entanto, não se pode confundir a
essência do fazer jornalístico com a mera captura de informações ao acaso por
pessoas que não são repórteres, mesmo sendo esforçadas em contribuir com a
revelação de fatos que não podem passar despercebidos da sociedade.
O jornalismo tem as suas regras e algumas
dessas regras de ouro são a apuração dos fatos, a criteriosa verificação de sua
veracidade e o julgamento da importância e do interesse coletivo sobre fatos a
divulgar. Logo, um acontecimento não apurado não serve, a priori, para se
tornar notícia. A apuração, em princípio, é atividade específica do repórter,
caso contrário, aquilo que pode estar sendo passado como informação
jornalística pode ser, ao final, apenas um boato, produto de uma informação não
investigada e verificada. Pode ser fruto apenas de uma aparência.
Por sua própria condição profissional, é ao
repórter que cabe a tarefa da apuração, até porque o cidadão que registra um
acontecimento com sua câmera portátil nem sempre terá tempo e habilidade para
realizar a verificação do fato registrado. Muitas vezes são imagens apanhadas
de um carro em movimento, sem que a pessoa que fez o registro pare para
efetivamente verificar o que acontece.
Essa regra vale para todas as formas de
jornalismo, seja nos suportes digitais, seja em papel. É evidente que o
jornalismo impresso sofre hoje as coerções do ambiente digital, mas ele
continua tão útil, possivelmente mais necessário do que antes, quando não
sofria tal concorrência avassaladora. Por isso, na atualidade o jornal impresso
busca novas linguagens, com muita dificuldade.
Pesquisadores preveem que o jornal em papel
não desaparecerá, mas terá que reencontrar-se, tornando-se mais analítico, mais
investigativo, apurando os fatos com maior profundidade e oferecendo ao leitor
um momento de análise e reflexão daquilo que já foi publicado em tempo real nos
dias e horas precedentes. Daí que o impresso, segundo alguns teóricos, tende a
deixar de ser diário para ser oferecido uma, duas ou três vezes por semana,
mais ou menos sob a forma de revista, em que a novidade já conhecida é
interpretada e enriquecida com a pesquisa de novas fontes.
O impresso tende a tornar-se um novo jornal, menos
noticioso e mais interpretativo, logo, necessitando, mais do que nunca, de um
novo jornalista, melhor preparado e capaz de informar, refletir e interpretar,
em diálogo com o leitor.
Faço estas breves reflexões para parabenizar
o Jota Parente no momento em que comemora a primeira década de seu Jornal do
Comércio, de Itaituba. Se está chegando aos dez anos é porque está se
atualizando, está buscando a sua própria linguagem com a qual se comunica com
seu universo de leitores.
O diálogo entre o impresso e os meios
digitais é uma necessidade; em todos os recantos do mundo, hoje, o impresso
interage com a internet e a sua luta deve ser evitar permanecer no velho estilo
do jornal meramente noticioso. Hoje a notícia é dada a todo momento, durante 24
horas, nos blogs, nos portais, nos smarts que hospedam as chamadas redes
sociais. O que fica, então, para o impresso é aquele diálogo que, com menos
pressa do que a busca, apenas, do furo jornalístico, procura esmiuçar o fato,
produzindo uma narrativa mais pensada que aprofunde a narrativa noticiosa.
Isso acontece tanto nas grandes cidades como
nas pequenas. Em Itaituba, a presença reconhecida do Jornal do Comércio
demonstra que, pela argúcia e compreensão do momento presente, José Parente tem
sabido situar seu corajoso jornal, sintonizado com os anseios sociais locais e
regionais, com pautas que dizem respeito às realidades vivenciadas pela
coletividade da imensa região do Rio Tapajós com os seus enormes desafios e
imensas potencialidades. Um jornal que aprendeu a dialogar com a comunidade de
seus leitores, assim como interagir com os tentadores meios eletrônicos. Nos
tempos que correm, dez anos de jornalismo impresso equivalem a um século.
Portanto, que o Jornal do Comércio, de Itaituba, continue dando o exemplo de bom
jornalismo a todo o Oeste paraense por mais um século.
Artigo publicado na
edição 203, comemorativa dos dez anos do Jornal do Comércio. Esse artigo foi
publicado, hoje, no blog do jornalista Manuel Dutra
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