G1
PA - "A senhora pode ficar tranquila, tome este remédio que o bebê está
bem", recomenda o médico Jessé Soares a uma paciente que procurou
atendimento no hospital de Limoeiro do Ajuru, onde o jovem trabalha há cerca de
um mês. "Ela está grávida e caiu, mas vai ficar tudo bem", explica.
Assim
como sua paciente, a trajetória do médico também teve momentos em que foi
preciso levantar para ver tudo ficar bem: o jovem que
vendia bombons nos ônibus de Belém para pagar as despesas com
material da faculdade de medicina da Universidade do Estado do Pará (UEPA)
concluiu o curso e conseguiu seu registro profissional na última
quarta-feira (20).
"Foram
vários momentos em que batia uma angústia de querer estudar e não ter
condições, mas sempre vinha um sentimento de que, quando eu terminasse, as
coisas seriam melhores. E estão melhorando", comemora.
Segundo
Soares, o próximo desafio é escolher uma área de especialização, que pode ser
oncologia ou neurocirurgia. "Estou estabilizando minha vida para fazer
residência. Eu quero oncologia ou neuro, que são áreas que exigem bastante
dedicação e estudo. Ainda não decidi se vou fazer as provas no final do ano ou
em 2016", relata.
Jovem divulgou uma foto sua com a mensagem 'Jessé Soares: estudante de medicina e vendedor de rua" para conseguir doações para concluir o curso (Foto: Jessé Soares / Arquivo pessoal) |
Jovem
divulgou uma foto sua com a mensagem
'Jessé Soares: estudante de medicina e
vendedor de rua" para conseguir doações para
concluir o curso
(Foto: Jessé Soares / Arquivo pessoal)
'Jessé Soares: estudante de medicina e
vendedor de rua" para conseguir doações para
concluir o curso
(Foto: Jessé Soares / Arquivo pessoal)
Determinação
Soares nasceu em Limoeiro do Ajuru, cidade com 25 mil habitantes localizada no nordeste do Pará, perto da ilha do Marajó. Ele conta que passou mais da metade dos seus 25 anos no município, completando o ensino médio graças ao esforço da mãe, agente comunitária de saúde, e do pai, carpinteiro. Como outros ribeirinhos, Soares aprendeu a pescar, colocar armadilhas no rio para capturar camarões, subir no açaizeiro, e as técnicas da marcenaria para produzir móveis e utilitários.
Sua primeira aprovação no ensino superior foi no curso de licenciatura em física, mas a pontuação obtida pelo então calouro garantiria vagas em cursos mais concorridos - foi daí que ele decidiu, em 2009, tentar cursar medicina.
Soares nasceu em Limoeiro do Ajuru, cidade com 25 mil habitantes localizada no nordeste do Pará, perto da ilha do Marajó. Ele conta que passou mais da metade dos seus 25 anos no município, completando o ensino médio graças ao esforço da mãe, agente comunitária de saúde, e do pai, carpinteiro. Como outros ribeirinhos, Soares aprendeu a pescar, colocar armadilhas no rio para capturar camarões, subir no açaizeiro, e as técnicas da marcenaria para produzir móveis e utilitários.
Sua primeira aprovação no ensino superior foi no curso de licenciatura em física, mas a pontuação obtida pelo então calouro garantiria vagas em cursos mais concorridos - foi daí que ele decidiu, em 2009, tentar cursar medicina.
Jessé
Soares, médico
O
jovem foi aprovado e se mudou para um quitinete no bairro do Guamá, em Belém. No mesmo ano, a
namorada dos tempos de cursinho ficou grávida da primeira filha do casal. Com
isso, aumentaram os gastos, e o jovem precisou completar a renda vendendo
bombons por R$ 0,50 nos coletivos da capital.
Porém, o tempo que o jovem gastava nos coletivos limitava as horas disponíveis para o estudo. Para conseguir se graduar, Jessé fez uma campanha nas redes sociais em 2013, arrecadando dinheiro suficiente para se manter até o final do curso.
Porém, o tempo que o jovem gastava nos coletivos limitava as horas disponíveis para o estudo. Para conseguir se graduar, Jessé fez uma campanha nas redes sociais em 2013, arrecadando dinheiro suficiente para se manter até o final do curso.
Segundo
Soares, sua dificuldade serviu de motivação para garantir o futuro das filhas
Ewelyn e Ana Clara. "Eu vou investir na educação delas, para que não
aconteça com elas o que aconteçeu comigo. A minha história é legal porque
terminou bem, mas não desejo o que eu passei para ninguém. Espero que elas
tenham uma vida mais fácil", disse.
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