Os impostos que todos pagam
merecem ser bem administrados. Bons políticos não vem do nada, nem caem do Céu.
Para que existam bons políticos para administrar o país, toda a sociedade
precisa colaborar para que eles possam nascer e terem sucesso. É preciso um
sistema eleitoral moderno para melhorar a qualidade da política. Os políticos
tradicionais tem horror à reforma política, porque ela pode mudar a situação
atual onde eles usam e manipulam o eleitor e são pouco cobrados. E somente uma
grande reforma política pode mudar o quadro atual.
Do jeito que é atualmente, a
cada nova eleição o cidadão é convidado, ou obrigado, já que o voto é
obrigatório no Brasil, para legitimar a continuação da bandalheira que virou
uma instituição neste país. O brasileiro precisa entender que a máquina chamada
Brasil para sem ele. Nós somos o combustível que mantem acesa a chama da
corrupção, na medida em que recolhemos os nossos tributos, mas, não cobramos
daqueles que elegemos com a finalidade de fiscalizar o governo. Elegemos vereadores,
deputados estaduais e deputados estaduais, os quais depois que se veem de posse
de seus mandatos, só voltam a lembrar que são empregados do povo, quando chega
a hora de tentar se manter no cargo.
Mesmo reconhecendo o avanço
da politização do povo brasileiro nas décadas recentes, o contingente dos
alienados e analfabetos políticos é imenso. Tem um monte de gente que diz que
não suporta política, e que só vota por que é obrigado por lei. Aqui mesmo em
Itaituba é muito grande a quantidade de pessoas que agem dessa maneira votando
em qualquer um, ou vendendo o voto. Como voto tem consequência, o resultado
disso é que esse tipo de eleitor não tem para quem reclamar depois, e termina
prejudicado a todos.
Como escrevi anteriormente,
cresci em um meio onde se respirava política. Mas, passados 63 anos de minha
vida, considero-me um cidadão descrente dessa velha prática política
brasileira, onde os vícios só fazem se renovar com o passar dos tempos. Os
políticos novos que se elegem, grande parte adquire os velhos hábitos que
combatemos há muito tempo.
Eu sei que existem bons
políticos, e poderia enumerar muitos deles. Alguns conseguem sobreviver ao
sistema e embora não consigam mudar os rumos da política como a gente gostaria,
sobressaem-se por serem corajosos e boa parte deles alia isso a uma boa
oratória que ajuda muito. Mas, os maus continuam ocupando muito mais espaço nas
manchetes da imprensa.
Como disse o cientista
político Thomas Skidmore, o problema do Brasil é um
sistema político permissivo que manipula um sistema administrativo ultrapassado.
E a esse respeito, nossos políticos são extremamente conservadores, pois tem
calafrios quando se fala em mudar o sistema. Ninguém quer correr o risco de
perder as benesses do poder. E o cidadão brasileiro, quase não se dá conta
disso. O sistema engole os políticos bonzinhos. Os bons se sobressaem, mas,
aqueles que chegam cheios de boas intenções, porém, sem firmeza de propósito,
ou desaparecem do cenário e viram políticos de um mandato só, ou são tragados
pelo sistema, entrando no jogo.
Vai chegar o dia
em que será inevitável a adoção do voto distrital, mesmo que seja o misto, que
parece ser o mais adequado para um país como o nosso. Nesse sistema, há mais
justiça na divisão das cadeiras do parlamento, pois um candidato a deputado
distrital não pode sair de seu distrito para pedir votos em outro. Quem for
eleito terá que mostrar trabalho, sob pena de ter sua reeleição dificultada. Em
vez de apenas tomar a benção para o chefe do Executivo, o deputado distrital
terá que tomar a benção de seus eleitores.
No atual sistema
eleitoral brasileiro, que os políticos não demonstram intenção de mudar em
curto prazo, a maioria dos parlamentares, em todos os níveis, mais parecem
empregados do Executivo, do que representantes do povo, pois é ao Executivo que
vivem simbioticamente ligados. Isso acontece em Itaituba, onde desde que aqui
cheguei, o que tenho testemunhado é a subserviência do Legislativo ao
Executivo. Muda o nome do prefeito, mudam os nomes dos vereadores, mas, os
vícios continuam os mesmos, antes e agora.
O mesmo se dá na
ALEPA, onde quase todos os governadores das últimas décadas governaram com
folgada maioria a preço de conchavos políticos. Até em Brasília a relação de
grande parte dos parlamentares com o Executivo vai de encontro aos interesses
de quem os elegeu, porque os ministérios e toda sorte de outros órgãos são
fatiados entre os partidos que se dispõem a apoiar o presidente.
Então, existe algo muito podre neste reino, quando se trata do sistema
político brasileiro, que causa problemas gigantescos ao país, capazes de
emperrar a máquina chamada Brasil, uma locomotiva que puxa os pesados vagões de
uma burocracia infernal, que incentiva a corrupção, que ameaça a continuação da
viagem rumo ao verdadeiro desenvolvimento, porque o peso vai além de suas
forças.*Artigo de Jota Parente, na edição 186 do Jornal do Comércio, que está circulando
Nenhum comentário:
Postar um comentário