sexta-feira, março 19, 2010

Entrevista com o senador Flexa Ribeiro

Na edição passada do Jornal do Comércio, foi veiculada uma entrevista exclusiva, concedida pela senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), a qual eu publico agora.
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A reportagem do Jornal do Comércio conseguiu uma entrevista exclusiva com o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), na qual ele fez uma análise do quadro político no Pará, criticou com veemência o governo de Ana Júlia, falou sobre a criação de novos estados e disse que vai disputar a reeleição.

JC - Como o senhor analisa a atual conjuntura política do Pará?

Senador - A população clama urgentemente por socorro, por conta da desassistência deste desgoverno que está aí instalado em nosso Estado. Estamos verificando em nossas viagens pelo interior, que a população foi enganada por um projeto que se mostrou fantasioso: prometeu mudança para melhor e hoje vemos que houve sim mudança, mas para bem pior. Tanto que a relação do PT com os partidos de base que ajudaram a eleger a governadora é extremamente conturbada e todos estão insatisfeitos.

Dia desses ouvi de uma grande liderança, que não teria condições de apoiar a governadora na campanha, por conta da gestão desastrosa que tem feito. Para piorar, estamos vendo uma campanha do medo, pressionando os deputados estaduais para que aprovem um novo empréstimo de R$366 milhões do BNDES. Mas, o Governo já tomou emprestado mais de 2 bilhões de reais e nada fez. O atual governo está endividando o Pará e não realizou nada. Nem prestou contas de onde esse dinheiro está sendo colocado. Isso cria uma instabilidade política forte. E vejo que muita coisa ainda pode mudar até o final deste semestre em relação a alianças.

JC - O que o senhor acha do atual governo do Estado, em relação ao anterior?

Senador - A população deve comparar. O Pará está num atoleiro. Para tirar, é preciso uma tração 4x4. Então vamos comparar os quatro anos de Simão Jatene e os quatro anos de Ana Júlia. No Governo de Jatene, houve gestão. Todos os municípios do Pará foram atendidos, independentemente de coloração partidária. O Pará era avaliado como um dos cinco melhores Estados administrados do Brasil.

Em todas as áreas, o Pará figurava entre os melhores e em crescimento. Hoje, nos quatro anos do atual governo, temos visto exatamente o contrário. Quais foram as obras feitas? Apesar de receber abundantes recursos federais, o Pará é considerado hoje como o de pior administração entre os Estados brasileiros. Em qualquer setor, não há gestão. Seja na saúde, na educação, na segurança, na infra-estrutura. Em todos os setores, o caos impera. E quem sofre com essa falta de cuidado, são as pessoas. A população foi enganada e paga um preço caro. Mas estou contando os dias para 1º de janeiro de 2011, quando o Pará sairá do vermelho.

JC - O senhor acredita, que mesmo no ocaso de seu governo, dada sua grande popularidade, o presidente Lula vai conseguir ser fator determinante na eleição de alguns governadores e isso inclui o Pará?

Senador - Não. O Pará possui peculiaridades que não estão sendo observadas pelo Governo Federal. Houve repasses de recursos, mas a Governadora simplesmente não sabe administrar. Esta semana mesmo eu discursava na tribuna sobre os desmandos da Governadora e o senador Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB, resumiu bem em seu aparte, dizendo: “A governadora Ana Júlia pode ter várias aptidões, mas esta, de governar, infelizmente ela não tem. Pior para o Pará”.

E é exatamente isso. Ela e sua equipe não sabem gerenciar um Estado. Cito como exemplo apenas um dado, que inclusive foi denunciado na tribuna do Senado pelo amigo e companheiro Mário Couto. O Pronasci, que é o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, destinou R$21 milhões para a segurança pública no Pará. O Governo usou apenas R$1,9 milhão e devolveu o restante. Devolveu! Isso mostra a ineficiência, o descaso com o paraense, que sofre com a insegurança. Então, não será uma figura, por mais carismática que seja, que poderá iludir a população novamente.

JC - Como uma grande liderança empresarial e política do Estado, como o senhor vê a tentativa de criar dois novos estados a partir da área do Pará?

Senador - Acho que a reivindicação é justa em relação a se debater mais este tema. Cabe à população decidir. Por isso, fui a favor do plebiscito tanto de Carajás, onde acelerei a votação na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, como apóio também o referendo para a criação do Estado do Tapajós. Acredito que essa é uma questão importante e que deve ser debatida a fundo, até mesmo para servir de alerta aos governos. Não é um assunto para ser decidido nos gabinetes refrigerados de Brasília e sim pela população. Muita gente busca tirar proveito político dessa questão. O primeiro passo é aprovarmos o referendo.

JC - O fato do Pará ser muito grande para ser administrado por um governo que fica quase num dos extremos do seu território, e levando-se em conta que todos os novos estados criados prosperaram, não são motivos para se analisar esse assunto da criação de novas unidades federativas com isenção?

Senador - Em relação ao tamanho do Estado, acho que não é um argumento muito convincente. Não adiantaria repartir as áreas se os recursos não forem aplicados e se os benefícios não chegarem à população. E se, de fato, o que mudar for apenas a bandeira. Não queremos isso e acho que ninguém quer. Precisa existir um projeto concreto de desenvolvimento, força política e cooperação. E isso deverá ser debatido na hora de um referendo. Assim, teremos um debate profundo pela própria população. Devemos agora juntar forças para aprovar o referendo, que é o primeiro passo a ser dado.

JC - Em nível de Congresso Nacional, de que forma o senhor sente a disposição do parlamento de criar novas unidades na federação?

Senador - Existem hoje cerca de quinze projetos para criação de novos Estados tramitando no Congresso Nacional. Este não é um assunto e discussão levantada apenas no Pará, mas sim em todo o Brasil. Por isso, existem parlamentares de diferentes regiões do país engajados nessa questão.JC - Pelo que se sabe, políticos do sul e do sudeste, liderados por São Paulo, são totalmente contra a criação de novos estados, tendo como justificativa a desproporcionalidade na representação. Como o senhor vê essa questão?Senador - O problema não é em relação aos parlamentares do sul e sudeste. Afinal, não haverá desproporção, pois número de congressistas na Câmara é proporcional à população. E no Senado são três representantes por Unidade da Federação. A grande dificuldade que estamos encontrando parte do Governo Federal, ao não permitir que se discuta a criação de novos Estados. E a posição do atual Governo Federal também é longe de ser em apoio à regulamentação que transfere aos Estados a retomada da criação de novos municípios.

JC - O senhor vai tentar renovar seu mandato de senador ou vai ser candidato a deputado federal?

Senador - Tenho a tranqüilidade e consciência que me esforcei ao máximo para cumprir com honra o mandato nesses anos que estive no Senado Federal. E que temos muito trabalho a mostrar e existe um clima político propício para que tenhamos o reconhecimento da população ao decidir pela recondução ao cargo. Qualquer pessoa pode procurar, por exemplo no site Congresso em Foco http://www.congressoemfoco.com.br/) que sou um dos parlamentares com maior presença no Congresso. Ali temos travado uma luta diária e constante em defesa dos interesses do Pará. Apresentei durante o mandato 44 projetos de lei. O projeto é o meio que temos como parlamentares de levar benefícios à população. Foi através de projeto que conseguimos e batalhamos muito pela criação da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), que inclusive foi implantada.

Também apresentei projeto para criação de uma universidade federal para o sul e sudeste do Estado, que chegamos a aprovar no Senado, mas acabou rejeitada na Câmara. Quero continuar essa luta. Também é projeto de minha autoria a criação de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) para Marabá e Santarém. São áreas com incentivos fiscais que vão atrair empresas e gerar milhares de empregos nessas duas regiões. Também apresentei projeto que prevê a oferta de cursinhos pré-vestibular gratuitos para alunos da rede pública de ensino. Outra boa notícia que tivemos ontem mesmo (10/03/2010): o Senado aprovou outro projeto de minha autoria que aumenta de quatro para sete meses o pagamento do seguro-desemprego para trabalhadores que foram demitidos pelo fechamento de empresas do setor florestal, fechadas por ações de combate ao desmatamento.

Todos estes projetos que citei já foram aprovados no Senado e agora falta apenas a Câmara dos Deputados aprovar a proposta para que vire lei. Está na Câmara também um projeto meu que revisa o Código Florestal, permitindo que as áreas já desmatadas possam ser recuperadas com espécies exóticas. Isso daria um ganho de produtividade e geraria milhões de empregos na Amazônia. São algumas lutas que temos travado aqui no Senado e acredito que temos muita coisa a mostrar. Além dos projetos, tenho tido uma atuação forte em defesa da melhoria da infra-estrutura para nosso Estado.

Uma estrada boa é escoamento de produção, é educação, é saúde também. E temos ficado de olho cobrando pela BR-163 e Transamazônica. Aliás, consegui aprovar emenda que incluiu no Plano Nacional de Viação, duas novas ferrovias para o Pará: uma ligando Santarém a Cuiabá, interligando a BR-163 e outra na região de Barcarena e Belém. Estas são algumas das frentes que temos trabalhado. Temos muito que mostrar e estou certo de que o reconhecimento que vejo e ouço nas ruas indica nosso caminho.

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