sexta-feira, janeiro 23, 2009

O garimpo vai ser a solução na crise

No começo de 2008 o Jornal do Comércio fez uma reportagem a respeito das perspectivas do setor mineral para a região do Tapajós, cujos reflexos seriam diretos sobre Itaituba. O cenário era muito otimista na ocasião e boa parte daquele otimismo transformou-se em realidade. Hoje a situação é completamente diferente em virtude da crise mundial, que começou com a quebradeira norte-americana. As expectativas são bastante pessimistas, como diz o presidente da AMOT, Ivo Lubrinna, em entrevista concedida ao JC. Ele aborda ainda, o complicado momento pelo qual passa a Serabi, que demitiu praticamente todos os seus funcionários, que teve o valor de suas ações na bolsa reduzido a quase nada e que pode quebrar, segundo suas palavras.
JC – No início de 2008 houve a expectativa de investimentos em torno de 60 milhões de dólares na província mineral do Tapajós, sobretudo em pesquisas. O que se confirmou daquela previsão e o que deixou de ser aplicado, já em função dessa crise?

Ivo – Eu digo que, de acordo com as expectativas da AMOT, que para este ano de 2009, se nós tivermos a aplicação de 10% a 20%, eu acho que nós estaremos numa situação muito boa. Então, daqueles 50 milhões ou 60 milhões de dólares que foram investidos em 2008, num horizonte muito otimista, nós atingiremos uns U$ 6 milhões a no máximo U$ 12 milhões, o que representará uma queda de 80% a 90% no decorrer deste ano.

JC – Mas, 2008 foi bom?

Ivo – Até a data da quebradeira foi bom. O dinheiro para o desenvolvimento dos projetos estava fluindo. No momento em que começou a quebradeira, sentimos aqui o corte de investimentos em pesquisas. A retração foi imediata.

JC – A situação só não se complicou mais, porque a crise mundial só ficou mais acentuada no final do ano?

Ivo – Nós, do setor mineral, só começamos a ver o horizonte mais sombrio nos últimos três meses do ano que passou. Foi quando a gente começou a sentir a diminuição dos investimentos. Porém, vemos que o ouro está, de novo, sendo o centro das atenções dos investimentos, tanto nos tesouros nacionais, como lastro dos bancos centrais mundo afora, quanto de grandes instituições financeiras, bem como da indústria eletroeletrônica, que usa o ouro como matéria prima. Da mesma forma, a jóia de ouro também fica mais valorizada.

JC – Qual o reflexo que isso pode ter para Itaituba?

Ivo – No nosso caso, quem tiver uma mina de ouro produtiva não vai ter problema, pois o preço do ouro está muito bom e crescendo. O problema está na área de pesquisa, pois não se consegue captar recursos no mercado externo, uma vez que pesquisa é investimento de risco.

JC – Como fica o garimpo, nesse cenário?

Ivo – Quem vai salvar a pátria aqui na região do Tapajós, principalmente Itaituba, é o garimpo.

JC – A Serabi conseguiu colocar suas ações na bolsa de Londres. Os valores das ações caíram e a empresa passou a enfrentar dificuldades...

Ivo – Houve uma queda, mas, especificamente no caso da Serabi, o problema foi má gestão. Foi uma estratégia errada, um caminho errado que a Serabi trilhou. Ela era uma empresa adimplente; o ouro continua lá; permanece, algo cubado em torno de cinco toneladas, fora aquele estimado que existe, calculado em cerca de dezesseis toneladas, tudo na área do Palito. Então, a gente teria em torno de 21 a 25 toneladas, o que poderia esticar o tempo de vida da mina em mais uns 15 anos. Agora, o que é que está acontecendo?
Com essa má administração houve um descaminho, o que está levando ao fechamento da mina, porque todos os seus funcionários foram despedidos. Na mina só estão processando aquilo que já estava no pátio. Não estão tirando mais um grama de dentro da mina. Chegou ao colapso.

JC – Qual o impacto disso tudo para futuros investimentos?

Ivo - Foi muito ruim. A Serabi é uma empresa que esteve avaliada na casa dos 50 milhões de dólares, algo em torno de 130 milhões de reais, de acordo com a variação atual da moeda norte-americana. Hoje, por todos esses problemas, incluindo essa política que eles seguiram a partir da metade de 2007, quando a empresa passou a ter nova direção, houve essa queda brutal. Faz um ano e meio que começou essa queda, tanto na bolsa de Londres, quanto aqui na mina. Um foi contaminando o outro. Hoje, a Serabi está acrescentando zeros à esquerda. Prova disso é o atual valor de suas ações, na casa de 0,01 libras esterlinas, enquanto estiveram em torno de 0,50 centavos. Então, bateu no fundo do poço.

JC – Tem jeito?

Ivo – Se não houver uma mexida, o que eu vejo com certa reserva, o caminho da Serabi vai ser quebrar. Ela está com dívidas grandes aqui na região. Se estivesse funcionando como antes, como até junho de 2007, quando a Serabi era uma grande compradora no mercado local, adimplente como era, isso se resolveria com facilidade. Hoje ela deixou de ser consumidora deste mercado e se tornou inadimplente. Está devendo a muitas pessoas aqui, tem títulos protestados. Enfim, eu vejo um horizonte sombrio, a permanecer a política atual da Serabi. E o valor de mercado da empresa, que era de U$ 50 milhões, hoje está na casa de U$ 5 milhões.

JC – Qual é a situação da Serabi neste momento?

Ivo – Está fechada. Foi todo mundo mandado embora, tanto aqui, quanto na mina. Não tem ninguém, foi todo mundo demitido. Só ficou o pessoal de manutenção, na mina, tipo cinco pessoas. De mais ou menos 500 empregados, ficaram cinco.

JC – Houve um erro estratégico?

Ivo – Sim, houve! Havia um corpo técnico que estava funcionando como um relógio. A mina, na boca da mina, ela era adimplente. A empresa tinha uns custos absurdos depois da boca da mina; custo altíssimo em Londres; fizeram uma mudança inadequada do escritório, primeiro para Fortaleza e posteriormente para Belo Horizonte, o que fez com que o centro de decisões ficasse longe do local de produção. Com o escritório aqui em Itaituba, a empresa tinha o controle da situação; em Fortaleza ou em Belo Horizonte esse controle ficou mais difícil. Os bons técnicos que a empresa tinha ficaram desmotivados com a nova política. Antes, ela funcionava como uma família, onde todos suavam a camisa para que as coisas dessem certo.

JC – A conseqüência direta foi a demissão de cerca de 500 pessoas. E a conseqüência indireta?

Ivo – Se somarmos aos empregos que eram gerados pelas prestadoras de serviços, as chamadas empresas terceirizadas, são 700 postos de serviços imediatamente extinguidos. Todas essas 700 pessoas foram colocadas no olho da rua. Juntando a isso os outros que prestavam algum tipo de serviço, eu creio que perderam sua fonte de renda mais ou menos 3.500 pessoas.

JC – Isso tudo pode ter reflexos negativos em investimentos que estavam previstos para esta região?

Ivo – Isso para nós foi uma desgraça, porque nós temos um problema seriíssimo aqui na Amazônia, referente à logística. Faltam estradas, falta energia elétrica, faltam técnicos. Temos ainda um agravante que foi a criação dessas unidades de conservação que foram criadas irresponsavelmente em cima de jazimentos minerais sem respeitar a tradição da região, o que representa um entrave.
No momento em que você tem uma empresa como a Serabi, que passa por um momento crítico como esse, por má gestão, se ela quebrar, com certeza o capital de investimento e desenvolvimento industrial vai fugir. Uma virtual quebra da Serabi – e está caminhando para isso – vai representar um atraso em médio e longo prazos, de dez a quinze anos, com conseqüências imprevisíveis, não só na pesquisa, mas também de desenvolvimento da indústria, que é a mina. Se a primeira der errado, corremos o risco de outras não desenvolverem.
Temos o caso do projeto da Jaguar, que foi vendido para um outro grupo, o qual agora está com medo de fazer investimentos com toda essa crise mundial. Para desenvolver, a empresa vai precisar construir uma barragem que não vai impactar tanto assim o meio ambiente. Mas aí ela vai encontrar dificuldades para fazer isso, porque vai ter que vencer a oposição desses conselhos que são contra tudo que se refere a algum impacto ao meio ambiente. Um dia desses, numa reunião, o presidente de um desses conselhos me disse que quebrar coco babaçu poderia render o mesmo que tirar ouro da terra. Eu acho que não! Basta olhar quantos maranhenses existem em Itaituba, os quais, em sua grande maioria, deixaram sua terra, onde tem mais babaçu do que em qualquer outro lugar para virem extrair ouro. Compare o preço de um grama de ouro com um quilo de coco babaçu!

JC – Existem campanhas claras de ONGs tentando impor esses discursos?

Ivo – E não é isso que está acontecendo? Estamos vivenciando isso agora! E uma coisa que preocupado muito é que esses discursos de quebrar coco estão tomando conta. Não demora muito, daqui uns dias nós vamos estar atando nossas redes no meio da rua porque não vai ter mais movimento nenhum. Tem pessoas daqui de Itaituba, que sofreram lavagem cerebral, que estão brigando para isso aconteça e que defendem a criação de novas unidades de conservação, sem lembrar que essas que existem foram criadas onde estava se desenvolvendo a garimpagem há muito tempo. Essas pessoas recebem dinheiro de alguma organização não governamental de outros países, até o momento em que servirem aos interesses externos. No dia que não interessar mais, quero ver de que elas vão viver. São usadas como instrumentos dessas ONGs internacionais com objetivos escusos.

JC – Isso também ajuda a afugentar novos investimentos?

Ivo – Tudo isso ajuda a afugentar novos investimentos. Que garantia uma empresa vai ter para investir milhões de dólares, se não tem certeza que vai poder explorar uma mina mais tarde? Esse projeto do Tocantins está orçado em torno de 150 milhões de dólares. Consta do projeto uma pequena unidade de geração de energia elétrica, que ninguém sabe se poderá ser construída porque essas ONGs já estão chegando por aqui para dificultar. Muitas delas, que atuavam em Santarém, já se mudaram para cá.

JC – O que se pode esperar dessas empresas que já estão aqui, em termos de investimentos para este ano de 2009?

Ivo – 2009 é uma grande incógnita. Não dá para apostar nada. O que já estava disponível para ser aplicado pode ser recolhido. Toda essa insegurança (por causa do cenário externo, com implicações internas e das campanhas da ONGs) pode recrudescer a situação aqui.

Um comentário:

  1. Anônimo7:14 PM

    Eu sou um assíduo leitor do Blog, inclusive está muito bom de cara nova. Porem lamento muito algumas entrevista como esta, pois é com muita indignação que vejo alguem falando de uma empresa, sem que tenha propriedade para tal. Ivo, pelo pouco que sei, não fez parte do quadro funcional da Serabi, e portanto, não conhece e nem tem propriedade para falar da forma que declarou nesta entrevista. Lamentável tambem, é o entrevistador direcionar tais perguntas de tão grande impacto, a uma pessoa que não tem conhecimento de causa, que responde o que lhe vem a cabeça, que de certa forma, ate entendemos,pois este senhor foi um prestador de serviço para a Serabi, e acredito que por conta de seu distrato, tenha ficado aborrecido com a empresa.
    Seria muito bom que esta entrevista fosse conduzida de forma profissional, não pessoal como fica claro aqui, fazer perguntas certas, às pessoas certas, à alguem que faça parte do quadro da empresa, ou pelo menos tenha sido e conheça a realidade daqui. Uma pessoa que exerce um cargo de liderança dentro de uma entidade, jamais deveria direcionar criticas a uma empresa que faz parte de um contexto o qual representa, nem tampouco tecer comentários maliciosos e pior ainda, inverdades, injúrias, as quais só mostram o perfil das pessoas que infelizmente estão a tantos anos à frente da entidade e nada fazem para que o o setor mineral possa fortalecer-se e de vez 'deslanchar" na região; buscando interesses pessoais e falando mentiras (sim, pois no fundo Ivo sabe que esta não é a realidade da Serabi). Jota parente, descupe, mas foi muito infeliz a colocação das perguntas à alguem que não tem propriedade, conhecimento real e muito menos bom senso para calar-se diante da falta de conhecimento real.
    Sou funcionário da Serabi, e garanto que não sou um dos "cinco" citados por ele, somos muitos mais, e acredito muito na retomada desta emopresa, que muito contribuiu para o desenvolvimento da região trazendo muitas divizas pra cá, inclusive pra ele, e irá contribuir mais ainda àqueles que acreditam e continuam com a gente.

    Emerson Brito

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